Sete poemas de Nina Maria
Nina Maria (Santo Estêvão/Bahia), nascida no ano 2000, é mulher preta LGBT, autista e TDAH. Também é poeta, escritora. Atua como editora e curadora literária na Revista Ruído Manifesto. Graduanda em Letras com francês pela UEFS. É autora de quatro livros de poesia. Organizadora de exposição artística e fotográfica, bem como coletânea literária. Nina também é publicada em antologias nacionais e internacionais, com poesias e textos no português brasileiro e traduzidos em países como Alemanha, Argentina, Chile, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, França, Peru, Moçambique, México, Uruguai, Suíça e Portugal.
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Muitas
No mundo algo
Me noturna
Em mim coexistem
Duas forças
Eis-me aqui nua
Entre o véu e a aurora
Curando feridas que (des)conheço
Meu coração alado
Segue a estrada
Livre e leve
Em memórias de outrora
Me abraço no escuro
Danço ao sol
Sou uma,
Sou muita,
Sou tantas,
Sou eu
*
Indefinida
Ando sobre o fogo
Numa sinal
Não irei me curvar.
Eu me aceito e acolho
E sigo me movimentando
Só, rumo a liberdade.
Seguir passos e padrões
Nunca foi o meu forte
Transgrido acordes
De uma vida que desconheço.
Recuso a ser definida,
Seguir rotina
Sou indefinida, conceito aberto
E não me vejo em palavra alguma.
Habito em meu próprio lar
Eu, certa de mim mesma,
Plena, serena, forte
A suportar o fardo
De ser minha.
*
Attraversiamo
Atravessar
Medos e barreiras
Ir além de mim mesma
Confrontar e acolher
Meu eu e tantos outros.
Sento e converso com a menina que fui dez anos atrás
Dou colo a mulher que sou e vive as dores e delícias de ser adulta.
Sonho com uma vida plena e digna pela idosa que habitará este corpo vivido.
Abraço os joelhos ralados
Abraço a menstruação
Abraço a transição
Abraço a gravidez ou adoção
Abraço a liberdade de escolha
Abraço as rugas.
Abraço a mulher que fui, sou e serei.
Sendo, continuo e insisto.
Sou vasta
Intensa
Imensa
Sou eu fazendo travessias.
*
Plenilúnio
Ou ritual de lua cheia
Caminhar alinhada com meu propósito
Me libertando das opiniões alheias
Como quem faxina o próprio corpo
E se desfaz daquilo que não serve mais
Escolher a mim
Sem culpa
Todos os dias
*
Minha mãe é feminista
I
Entender o feminismo
Não como um conceito, mas
Um corpo
Uma voz
Um coletivo
II
Minha mãe varrendo
As sombras do meu avô e pai
Jogando no lixo velhos hábitos
Enquanto diz: – Filha, somos livres.
III
Ser feminista é
Ser plural,
Compreensiva.
Tudo é processo.
*
Me aceite como sou, quem quer que eu seja
Sobre mulheres como eu e Rita Rayworth
Se deitam sempre com Gilda
Acordam ao lado da desconhecida
Na hollywood da vida
Alguém fica?
*
Fronteiras de mim
Um dia me perguntaram
Por onde me encontro
Respondi: – Sou fronteiriça
Vivo entre limites
Me refaço desalinhando
Nunca sei de mim
E se sei foi quando desconheci]
Respondi: meu tempo é quando
Alexandre Barbosa
Olá! Boa noite! Tudo bem?
Tenho acompanhado as publicações de vocês. Estou gostando muito.
Também escrevo. Desejo saber como faço para publicar meus poemas aqui na página de vocês.
Abraço!
Denis Moura de Lima
Talvez os mistérios se aproximem do desvendar atraves dos paradoxos… E tua poesia, Eva, me parece horizonte aberto Pra fechar, é definir sem rotular, é lírica de humanizar!
Muito obrigado Eva!