Sete Poemas de Pedro Lopes Adão
Pedro Lopes Adão tem 20 anos, mas já exerce o ofício da escrita ativamente desde os 15. Principiou com poesia – a qual já lhe atribuiu prémios em concursos académicos. Dispersou-se, depois, para a Crítica Literária , como maneira de contrariar as neuroses poéticas. Neste campo revela-se possuidor de uma argumentação sagaz. Autointitula-se como o novo ” filho maldito” das letras portuguesas. Encontra-se actualmente a colaborar com a revista Devaneio.
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A voz cai – verte-se, deixando no silêncio uma palavra;
qual?
palavra grave e de sentimento deixada no silêncio –
verte-se, até que nada se escute.
*
Profundidade
Profundo,
e mergulho-de-cabeça
onde não há luz e nada se teme.
Mergulho-me em espessa e franca melancolia, asperoza,
una ou dilatada, dolorosa
(…) e em tempos, uma pergunta bastava: tudo se iluminava.
*
Temporalidade
As nossas horas, – quem as tem? –
que parecem não avançar e me incomodam?
Horas condenadas, certamente.
Horas cuja noite e dia sofrem,
como o resto, um fluxo,
algo distante e fulguroso,
assim como disperso sem objetivo.
*
Oh!
Oh! – um grito humano
penetrante nos ouvidos
que comove e entorpece
*
Ícaro
Estava distante, sim, vendo-o preparar-se.
Acolhi com fascínio os seus gestos,
o seu colocar de asas. Entendi.
Fora seu pai que lhas dera, robustas
capazes de lhe aguentar o movimento.
Tudo era um plano. Descolar e Ascender.
Tudo estava perfeito, o sol, o vento, o seu breu e olhar!
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…..……………………..
Deslocou-se.
Com ele, os meus olhos partiram cada vez mais alto
e o gozo dele era o meu,
o vento que lhe beijava as faces era-o meu, também.
Porém, fixado,
lá no alto e angelical – onde estás?
Uma chama dilatou e vi-o cair;
ainda rastejou, despojado,
mas já vira tanto que, assim,
nunca mais se separaria dos seus destroços.
*
Na noite seguinte à queda de ícaro
A noite fez-se menos escura.
Ícaro ´inda ardia, torto, enclausurado.
A seus pés, o pai. Tocava-lhe devagarinho,
não fosse por ele queimar.
*
Ser não sendo
Entre mim e o mais
transformam-se naturezas; e eu assisto-as
quieto e calado;
refletido no silêncio, reparo o lume
com que se colhe a inocência.
Reparo, pois, mas não me espanto:
nem que um vestígio de ouro me assombrasse,
nem que a alma previsse:
cada reflexo a que assisto
é-o não sendo, assim como um sono
que julgo sem sonhos.