Sete poemas de Roberta Nazário
Roberta Nazário é baiana, lésbica, poeta e contadora de histórias. Estudante de letras vernáculas e integrante do observatório de contação de histórias. Segurando nas mãos da literatura para conhecer meus próprios caminhos.
***
Agridoce
teu beijo calmo
como
água de rio
passou feito correnteza
só não carregou
a amargura
de te amar.
*
é difícil pensar nela dessa forma
difícil encarar nossa distância
e encontrar suas lembranças
nas minhas coisas
na minha casa
nos meus pensamentos
é muito difícil continuar
escrevendo sobre ela
na esperança dela voltar
pra um lugar que nem existe mais.
*
preciso escrever
pra que meu peito descanse
escrever
pra que meu coração entenda
que não é uma escola de samba
escrever
pra não morrer engasgada
de sentimentos
apenas escrever
e deixar o veneno
escorrer pra fora da ferida.
*
do útero confortável
de uma mãe
ao útero hemorrágico de uma filha
nó ou abismo?
talvez laço
de vida
morte
e vida
fratura
fartura
e coração.
*
penso no que escrever pra você
e me deparo com um emaranhado de palavras
então eu cato algumas
e esse monte de palavras catadas
quando percebem ser dedicadas a você
automaticamente
se tornam amor.
*
água escorrendo por sua pele
e as curvas, sinuosamente
banhadas de um desejo latente
se fundem em meu olhar sobre ti
suas costas me lembram o universo
como eu queria morar em você
até perder a noção do tempo
seu corpo é um eterno convite
e eu não me canso de aceitar
suas pernas, que eu deslize
na intensidade dum segundo
e por horas, e horas e…
até que eu me canse, parada
te olhando fixamente: pele
tato, olfato, paladar
sentindo os sentidos sensíveis
á sua presença – pertencendo
unicamente, a esse momento
*
no fim do dia
quando cada músculo do corpo dói
o toque dos nossos corpos
é cura.