Sete poemas de Ronaldo Ferreira de Almeida
Ronaldo Ferreira de Almeida nasceu em Niterói/RJ e atualmente mora em São Gonçalo/ RJ. Ele tem sua formação voltada às áreas das Ciências Humanas. Ele recentemente conclui o MBA em RH e aperfeiçoamento em equipes. É poeta, escritor e colaborador do portal da Agência de Notícias das Favelas. Ele entrou para o mundo literário com o livro :O amor deitou âncora ( Multifoco. 2013), com apresentação do Aldir Blanc e apresentação da Dra. Maria Celeste Machado. Participa das Antologias: “Polem- 10 anos” ( Ventura,2018), “Além da Terra , Além do Céu. Vol.III” ( Chiadobooks,2018), “Versando Momentos” ( Machado, 2022), “ Plural: poetas e poemas” ( Arribaçã,2023). O poeta tem o seu nome conhecido e reconhecido por artistas, poetas e acadêmicos das mais diversas áreas. Alguns deles: Ana de Hollanda, Antonio Cicero, Camila Gattai Veiga, Victoria Saramago e Noca da Portela. Uma frase resume o poeta, ” Leio Ronaldo Ferreira de Almeida e sinto, imediatamente, Vinicius, Neruda e outros que, com certeza, foram influência na sua apaixonada poesia. Ele é dessa escola que fala despudoradamente da mulher amada e do estado de se viver o amor em sua plenitude.” , afirma a cantora, letrista e ex-ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Hoje o poeta segue escrevendo e com projetos de novos livros.
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Tempus
O tempo agora me serve
embora galope afoito
como se fosse alazão
rompendo de modo
desembestado.
O tempo agora me bebe
me suga qual canudo
num refresco aguado,
aos poucos; mesmo
que sem vontade, me toma.
O tempo agora me come
por trás e pela frente
feito canibal dilacerando
vísceras, antropofagia…
e com o tempo, sem magia,
torno-me outro.
*
Transpiração
Esqueci-me de quantos poemas fiz nessa quarentena involuntária
Esbocei alguns… rascunhei outros e
engavetei todos.
Nunca volto num poema somente uma vez …
Jorge Luis Borges me ensinou a humildade de se frustrar com o poema.
É uma partida quando não surge…
A imanência escapa galopando o tema
A inspiração parece ciumenta
quando o vê.
*
Insônia
Eu acordo às 2h da manhã
Me viro de um lado para o outro
A noite silenciosa parece sussurrar ao meu ouvido uma exclamação tácita
Estou sentado à beira da cama e reviro poemas de Anne Carson
Uma outra poeta desafia o meu mundo sensível , que eu pensava conhecer.
Na geladeira, pego um copo d’água, o meu corpo se recolhe à cama seca e emoldurada
A minha alma deita sono dos justos:
penso sobre o neoplatonismo às 3h da manhã
E me pergunto quem pensa em filosofia numa horas dessas.
Pareço ter um fluxo de consciência , o personagem eu bem conheço…
A manhã ocre me desperta, é mais um dia do sonho acordar.
*
Bloco de Notas
Trouxe um girassol
Ele virou-se pro seu lado.
Nem sei por que emudeço
Engulo palavras…
quebro a gramática
Meu texto falha …
falo palavras desconexas
Esqueço o nome da minha mãe
Minha boca seca
e meu andar cambiante me denunciam
Meu bloco de notas perdeu-se
Queria uma tirada viniciana, não deu!
O garçom não chega…
Agora tudo é,
ou nada…
Tiro meus óculos,
assim penso vê-la melhor
E agora José?
Ser poeta não me salva nessa hora.
*
O poema em carta
Rasguei um poema que fiz, continha endereço certo
Algo do tipo flecha de anjo de asa partida
Cupido de não ajudar,
nem para tocar harpa enquanto a moça se debruçava no poema.
Acho que a culpa foi dele
Anjo mau feito vespeiro
Até que escrevo medianamente
Nem quis dar trabalho ao
Carteiro
O verso era ajeitadinho
O anjo, agora percebo, era caído de inveja.
Da próxima vez , eu mesmo me rasgo em versos.
Entrego pessoalmente e de próprio punho.
*
Caminhante
Tu és um poema de Camões
ou tu és um poema que caminhas?
*
Poeticamente
Sugiro a qualquer poeta- sem intenção
Olhar seu dorso
Na manhã descamante entre nuvens
Ou no meio da tarde veloz e fugidia,
Assim, meio sem querer,
Nem mesmo que se valendo de versos,
Nem de desdita: labuta da noite, o fazer poético.
De modo a não se perder, tão logo num momento
Refiro-me a perder-se coisas de sentimentos.