Sete poemas de Sarah Roberta
Nascida na cidade baiana de Feira de Santana, Sarah Roberta de Oliveira Carneiro é jornalista, e como tem alma viajante e a palavra como aliada, andou, vagou, narrou, circulou e migrou para a França, onde fez seu estágio doutoral, atuou como correspondente internacional e realizou seu pós-doutorado. Hoje, mora na cidade de Cruz das Almas, numa casa com jardim e de frente para a infância. Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), escreve artigos, discursos, ensaios, manifestos, convites, poesia e prosa. Seu primeiro livro se chama Miudezas de Uma Cidade do Interior; escritos sobre Cruz das Almas (Conspire edições: 2017, 2018) e ela integra obras coletivas, a exemplo dos livros Voos essenciais; palavras arregrais (Luminosa Livros: 2021); Águas de muitas fontes (Conspire edições: 2021) e Ir e ficar… Ir e voltar; mulheres brasileiras em movimento (Triom editora: 2022). Sarah tem elo firmado com a dança e com a fotografia, ocupa a cadeira de número 8 da Academia Cruzalmense de Letras (ACL) e pode ser lida no Instagram, através do perfil @sarahpalavra. Seus e-mails são sarah.palavra@gmail.com e sarahcarneiro@ufrb.edu.br
***
Sim
Sou pássaro
num corpo bonito de mulher,
asas transparentes,
voos imprecisos,
sigo de árvore em árvore,
de cidade em cidade;
no peito,
sempre o
mesmo coração
a aumentar o amor
que traz
*
Criação
Sublinhando
frases
de
um
livro,
em estágio de leitura,
transpiro
as palavras,
que jamais escrevi.
*
Insondável
Independente do idioma,
da lua,
dos faróis,
dos bares lotados ou vazios,
do movimento dos portos, aeroportos,
rodoviárias ou estações;
da dramaticidade dos nascimentos,
do pecado, da morte
e do ensaio dos galos para o concerto matinal,
existe uma aura comum
à toda e qualquer noite
em qualquer parte do planeta.
Mas,
embora universal,
a aura da noite é indecifrável,
se encerra num sentir vago,
impreciso, sutil,
capaz de nos levar,
sem piedade,
à perdição diante do escuro.
*
Confissão
Estive à espera
de um nome
que nunca chegou,
porque à deriva da solidão,
as palavras somem,
e só resta
o corpo insone.
*
Distopia
Ainda há quem faça a pipoca,
porque o filme da humanidade
jamais saiu de cartaz.
Mas tem que ser mais do
que a fraternidade é vermelha,
a liberdade é azul
e a solidariedade é branca.
Todo corpo pode matar
todo corpo pode morrer.
Quem trará novidades sobre o nascer?
Quem vai tatuar a palavra “perdão” sobre o peito?
É grave o vulcão encharcado de algoritmos perfurando as nuvens,
É inquietante a sombra da tela do computador sobre o oceano,
e tenho vontade de conversar
com otimistas da Segunda Guerra Mundial.
Preciso escutar uma voz que acalme o pranto da natureza,
dissolva o caos da alma e
suavize a febre de quem não sabe voar.
Pode o poema
aplacar de vez o peso que recai
sobre os ombros do mundo?
*
Ensolarada
É verão e Paris sugere passeios, diversão, férias;
esbanja um sol firme e fundamental;
recebe inúmeros andarilhos,
acolhe outros artistas
e se torna o destino de muitos dos incontáveis olhos asiáticos
que se dispõem a viajar mundo afora.
É verão e Paris está ainda mais lírica:
conta, agora, com o penteado de duas tranças
das suas meninas sentadas à beira do Senna;
acolhe um número maior de acordeons,
violinos e violoncelos.
É verão e Paris está ainda mais celebrada:
nas suas ruas há muita gente lhe oferecendo
uma apreciação em alta voltagem,
um conjunto de narrativas novas e
um sem fim de possíveis e bonitos encontros.
É verão em Paris e o mundo pode vir a conhecer inéditos versos.
*
Eu
Não
fui
feita
para
formulários,
e foi por isso
que eu
descobri
que uma macieira
provoca abraços
nos casais que
se preparam para dormir.
Luciano FoGaça de souza
Ola.
Muito obrigado pelo excelente trabalho!
Nesse mundo cada vez mais sufocado, a poesia É o BÁLSAMO e a Água fresca indispensÁveis para seguirmos eM frente.
Grande abraço