Sete poemas de Vilebaldo Santos de Jesus
Vilebaldo Santos de Jesus, nascido aos 7 de outubro de 1996 na cidade de Saúde interior da Bahia. Trabalha no ramo da joalheria artesanal. Ser humano simples e observador que busca encontrar um olhar diferente para cada beleza do mundo. Carrega consigo a filosofia de democratização de conhecimento – sobretudo, arte. Vilas ou Vilé, como também é chamado, é um jovem poeta que carrega nos olhos abismos e que ri o seu sarcasmo.
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A uma mulher apaixonada
anteontem vi uma mulher sem sutiã
ela estava a falar sobre buracos negros
e eu, é claro, sério e divertido,
perguntei-lhe de puro coração:
“madame, a teoria geral relativa explica,
porventura, por que as pomas podem fugir?”
e a resposta foi dura e precisa [com o apoio da mão]:
“[barba non facit hominem] estúpido! não, não, não”.
*
Ao céu que chora
a lembrança é tão sagaz
que alimenta a esperança
e a condena concomitantemente.
pude perceber tal fato
esquadrinhando como tudo é transitório
até mesmo as lembranças.
há dias em que rimos
e há outros em que suportamos.
eis o encanto de viver
a inconstância
a vulnerabilidade.
não sabemos de nada
exceto, depois de transato.
mesmo com a ideia de efemeridade
e de que não há um destino
prescrito para cada um
sinto-me nostálgico
e, pela tristeza, belo
ouvindo à chuva piaf
descobrindo
que a cada ser
o céu
assobia e chora
o seu taciturno
hymne à l’amour.
*
Até onde vais?
para onde vai toda memória de uma vida?
nascimento… sorrisos, cicatrizes, prazeres e lágrimas
a vida responde o que há de mais importante
com uma pergunta: “até onde vais?”
para onde vai toda beleza de uma vida?
crescimento… família, amigos, amores e amores
a vida, brincando com o mistério, ri-se e faz-se rir
há uma pergunta: “até onde vais?”
a gente aprende desde muito cedo
que o amor é o caminho a se encontrar,
mas em algum momento percebemos
que só o amor não é o suficiente
é preciso um pouco de eternidade
no que pensamos, falamos e fazemos
também é preciso um pouco de eternidade
no que gostamos, usamos e expressamos
afinal, a vida segue o seu curso
e, como um rio, sempre avante
mudando de formas, cores e sons
contudo, permanecendo o sentido… eterno
para onde vai toda história de uma vida?
talvez fique nos livros, nas canções ou nas fotografias
a vida… forjada no fogo é como uma joia feita à mão
somando formas e sentidos, a resposta é: o coração.
*
Do amor e outros demônios
somamos incompletudes
enquanto soamos mentiras e falsas virtudes.
o mundo é mesmo esse pedaço minúsculo do que vemos e somos
ou o mundo seria o que deixamos para trás?
não vemos as coisas como são, decerto
vemos as coisas como queremos vê-las.
do mesmo modo,
colocamo-nos em lugares abstratos:
beijos de vampiros,
abraços de espíritos
e piadas de Deus
mormente,
dividimos silêncios ambíguos
e velamos categóricos olhares.
*
Não precisa forçar
não precisa forçar
se não cabe no teu pé
se não cabe no teu corpo
não caberá no teu olhar
não precisa forçar
se não cabe no teu jeito
se não cabe satisfeito
não caberá no coração
se não respeita as tuas ideias
se não vê beleza como estás
se não cala ao teu silêncio
se não espera o teu tempo
mil vezes digo e repito:
não precisa forçar.
*
Quando eu não estiver mais aqui
quando eu não estiver mais aqui, lembre-se:
- eu amo comer;
- eu amo bagunçar o teu cabelo;
- você é inacreditavelmente linda;
- você é a minha obra de arte predileta;
- também é o meu milagre predileto;
- o jeito que você suaviza a minha vida com o seu amor é lindo.
[ah! eu não poderia esquecer]
- how you doin’?
*
Soneto de intensidade
não julgues que te quero só para mim
apesar de galgar a ti os meus excessos
a cada olhares, risos, fodas e protestos
despida e livre a tudo – dou-me assim
não penses que te desejo só em cetim
apesar de gozar em belezas e acessos
divirto-me à vida sem ou com sucessos
afinal, a vida é um sobe e desce sem fim
perdoe-me por esta vã voluptuosidade
ao desejar muito além do que a verdade
estar/sentir saudade não sendo o que sei de mim
deleite-se, enfim, à minha natureza exagerada
que não espera riso a cada momento de lágrima,
mas que morre de amores [já que a vida recomeça assim].