Sete poemas inéditos de Caroline Sillas
Caroline Sillas – PA. Curadora de artes múltiplas, tendo publicado em livros, revistas e Vpa. É diretora de comm e curadora do FID. Atua na área de consumo Intl com foco em comm, corpo e arte latino. Graduada em Comex, Letras, é especialista em Migração Intl e ConsR. IG @silas_caroline
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Quatro horas
Mordendo o pensamento, no sopro do concreto
não cabe certeza nenhuma
solos acompanhados por músicos
de cabeça para baixo, o portão segue de ferro
os alicerces das histórias arriscam os olhos dos vigias
O início azul da noite, a rota sul da cidade das fábricas
trabalhos de pé
Gargalhadas e ventos de uma só estação
Até que o processo nos devore.
*
Invocando o próprio corpo
A lembrança do cheiro de fuga nos chifres
ainda despertando do puro mato
nas curvas, o sinal da igreja
o carrossel da sorte.
Ao retornar, tudo sempre pela metade do preço
O mundo ultrapassa 24 horas,
Do fascínio em cortar o silêncio no céu
Estou chegando, tu sabes estou chegando.
*
Matéria Sensível
Lá fora, bichos de marmoré, a mesma fragilidade que os corpos não deveriam ter
vou me agarrando e ao mesmo tempo as palavras vão se resolvendo o desejo.
O corpo vai se desdobrando em frutas, ondas e lentidão.
Deveríamos estar vivendo está hora, mas é difícil encontrar um local
no jardim onde não foi colônia.
*
Dissabor
Uma mulher de muitos tetos e portas fechadas,
ensaio por semanas, o meu caminhar até a rua
Sonhos não dependem só da grama úmida.
Estamos aumentando as histórias sob o tempo
que ainda parece saturado.
Da manhã brilhante, da luz que faz sombra
Elas têm o seu próprio balanço.
Passar as mãos na parede da cozinha,
tremida em doses
Sacudir o engano, ainda é onde eu te vejo.
*
O que nos une
Em duas horas de conversa, confirmo os meus receios
colapsar olhando as fotos desbotadas
um personagem de pesca e tua distração
Me sinto atraída por justificativas prematuras,
dizem – tua lua, teu ascendente, tua ausência
Sigo tirando a poeira das coisas e dos sonhos distantes.
Gosto de sentir os pêlos roçando nos meus ombros.
Olhar insone, gosto de pensar no conflito de algo que deveria ser e não é.
O futuro já está brincando?
*
Percepções
Metade do ano, foram em círculos
perseguindo um quintal compartilhado
Os pássaros podem te perseguir, alguns podem narrar outras vidas.
A cidade grande, experimenta o tempo
banhos cores de amora
Do nada, o ninho se desintegra.
Um compulsão por desfazer, parte do mundo se espalha
Tem café, mulheres-meninas dançando à imagem de algum Deus
Dias para fincar raízes, nunca vi nada mais honesto
rapidamente um conflito coração e mente.
*
Chão
Tête-à-tête queimando nas suas toxinas, não deixe de me tocar. Câimbras vivem de alívios. Manchas esferográficas, nádegas de rua, pisco obsessivamente, seios cruzados. Confundo a alvenaria do vapor da sala, o soluço de amendoim brilha no meu telefone.
O mosquito me puxa para longe e aproveita o gosto requentado.