Teu nome, por Ádila Madança – Escritas em Revoada
É A di lá ou A di cá? Meu avô me perguntava, brincando com meu nome. A-di-lá, eu lhe falava. Seu nome era José Francisco dos Santos. Só depois de crescida foi que vim entender que ele compartilhava um dos seus nomes com o rio: Rio São Francisco, o Velho Chico, o Opará. Mas ao contrário do rio, ele nunca foi Chico, sempre foi Zé Gordim. Meu vô gostava mesmo era de fazer piadas pra a gente rir, e a gente se acabava em gargalhada. Eu adorava essa brincadeira que ele fazia com meu nome e sempre gosto de recontá-la.
Tempos depois foi que vim pensar nessa palavra do meu nome e na metáfora que essa brincadeira me dava… a possibilidade de me anunciar sendo de lá mas, ao mesmo tempo, sempre partindo de cá, do lugar onde eu falava. Dentro de mim, eu carregava essa aparente contradição de pertencer sempre ao lugar em que eu não estava. Mas, na verdade, eu gostava era de borrar as fronteiras e, ao invés de me reduzir, isso me ampliava.
Não era ser ou não ser, era ser-e-não-ser, que não se findava. Às vezes mais lá, às vezes mais cá, tudo se equilibrava. Num mundo construído por divisas, no meu íntimo, eu imensidava. Lá e cá. Isso ainda é poesia pra eu pensar. No entanto, muitas vezes é difícil não se repartir colocando as barreiras em nosso existir ou reforçando aquelas que teimam em nos imprimir. Às vezes, impossível não sucumbir diante das fronteiras ditadas sobre nossas existências corpóreas ou palavreadas.
Na minha vivência, a maternidade foi essa fronteira mais visceral, a mais concreta, a mais difícil de atravessar. Há barreiras que já não dão para borrar, isso eu entendi. A partir do meu filho, de nome Jorge Dorival, algo se alterava, renascia e refazia em mim os sentidos da brincadeira sobre o meu próprio nome. Agora sempre mais cá do que lá. Mas os sonhos de transgredir fronteiras ainda permanecem vivos aqui, cá. E lá, em qualquer canto do mundo onde não se está.
A propósito, qual o teu nome? E quais são tuas metáforas?
Ádila Madança