“Top Gun: Maverick” (2022) – Por Ryan Carmo
É tempo do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.! Como todo ano, a premiação, também conhecida como Oscar, supostamente indica e condecora os melhores filmes, atuações e trabalhos técnicos da temporada. Um propósito no qual falha, às vezes de modo ofensivo para os amantes da sétima arte, desde 1929. O que ocasiona decepções e polêmicas, aumentando seus detratores. Oscar, afinal, é honraria da indústria e não reconhecimento artístico. Por outro lado, o troféu tem seus admiradores, que se sentem representados pelas escolhas da Academia e até promovem bolões. Mesmo críticos de cinema têm esse hábito.
Independentemente do amor, da repulsa ou da indiferença, o “The Oscar goes to…” segue cativando e movendo cinéfilos, confirmando o lugar da festa hollywoodiana como a maior cerimônia de premiação de cinema que existe no mundo (cuja audiência diminui ano após ano).
Como amamos cinema (e assumindo as incoerências da vida), convidamos escritores, críticos e estudantes de audiovisual para escreverem sobre alguma das 10 produções indicadas à categoria principal: a de melhor filme.
O espetáculo técnico e sucesso nostálgico Top Gun: Maverick está entre os dez indicados a melhor filme no Oscar 2023. Ryan Carmo, editor de vídeo e estudante de Cinema e Audiovisual na UFMT, aponta os principais motivos para a sequência do campeão de bilheteria de 1988 alcançar esse feito.
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Top Gun: Maverick. Direção: Joseph Kosinski. País de Origem: Estados Unidos, 2022.
Em Top Gun: Maverick, a nostalgia é muito presente e dita o seu modus operandi narrativo desde os créditos iniciais. A música, a fonte textual, a montagem ritmada com a música, remetem imediatamente ao primeiro filme, e dentro da sala de cinema até cogitei acidentalmente terem colocado para ser exibido o filme de 1986, até finalmente aparecer o subtítulo, Maverick.
A partir daí, tudo o que a continuação faz para remeter ao primeiro Top Gun se limita a suceder e expandir tudo o que o primeiro filme faz, só que melhor.
O fio condutor para justificar a jornada de seus personagens é desenrolado de forma eficiente, ainda que simples: Maverick ainda sofre pela perda de Goose, seu companheiro de pilotagem que morreu num acidente no primeiro filme. Ele se culpa pelo ocorrido, e as repercussões de sua dor afetam sua relação com o recém introduzido Bradshaw, filho de Goose. E a partir da intriga deles, se define uma dinâmica de brilhante instrutor contra rebelde aprendiz que é só um dos vários arquétipos que o filme utiliza para tornar sua narrativa operante, porque ela sabe que seu valor está em outro lugar.
Depois de quebrar patamares com os últimos filmes da saga Missão Impossível, especialmente Operação Fallout (2018), a parceria do estúdio Skydance, com a Paramount, e a mente (e corpo) de Tom Cruise à frente e atrás das câmeras, um novo patamar foi designado no cinema de ação, e se Hollywood fizer questão de olhar para a indústria blockbuster como pura competição, cabe à ela superar o combo de feitos alcançados nesses projetos, e aqui, não é diferente. Toda a veracidade e imersão das sequências construídas são pautadas no realismo e na “paixão ao prático”. Tom Cruise sempre foi conhecido por fazer suas cenas, das mais simples às mais arriscadas, sem dublê, o que sem dúvidas é um fator que possibilita muito mais diversidade no que vai ser captado do que se à estrela de ação se limitasse a um rostinho bonito que, na hora H, ficaria no banco e exigiria à equipe de produção que encontrasse truques para esconder o fato de que, na verdade, quem está no olho do furacão é um dublê, e não o ator que recebe milhões para tal trabalho.
Top Gun: Maverick coloca seus atores dentro dos jatos e constrói sequências que, sem a espontaneidade de suas reações, e o claro esforço físico e mental que envolve pilotar uma daquelas máquinas, talvez o filme não tivesse nem metade do valor de produção que alcança graças ao altíssimo nível de verdade na captação do cena a cena. É claro que o roteiro extrapola a complexidade física e astronômica das circunstâncias, mas o que vale é o grau de realismo, e é nisso que o filme se sustenta: a missão parecer impossível, na teoria e na prática.
E ao entender que é nisso que se encontra o suco de entretenimento do filme, ele só precisa fazer o básico em progressão narrativa, daí pra frente é só deixar a técnica brilhar e fazer jus à uma essência de filmmaking carinhosa, imersiva, e de alto nível: a composição das sequências de ação é de uma limpeza visual tão lustrosa e de alta concepção de dinâmica entre planos; dentro disso, a noção rítmica de como tais planos alternam entre si é hipnotizante e um grande fruto de pura maestria em criação de frenesi, numa montagem que, na época da pandemia, com o “engavetamento” do filme, o editor Eddie Hamilton teve sobra de tempo para polir e deixar as mais de 800 horas de material bruto, terminarem soando como música num aguçado e enérgico produto final.
E mesmo quando o filme precisa conceber cenas “impossíveis”, parece que tudo está tão harmônico, encaixado e planejado que até a computação gráfica é imperceptível, absolutamente funcional e visualmente coesa dentro do que se esperaria de uma produção tão cheia de imagens essencialmente “autênticas”.
Não, o filme não tem muito à oferecer à nível de profundidade temática – talvez apenas num aspecto de antítese e complemento do que é o primeiro filme – e sim, talvez as acusações do filme ser uma mera propaganda militar nem sejam injustas, mas no que se propõe o longa dirigido por Joseph Kosinski, às vezes não faz mal um filme se vender e se sustentar exclusivamente pelo prazer da diversão dentro da sala de cinema, desde que ele faça isso bem feito, e aqui, Tom Cruise e companhia fazem, pela segunda vez consecutiva.
Onde assistir: Telecine
Prime Video (assista com Paramont +)
* “Sou o Ryan Carmo, atualmente editor de vídeo, estou no 3° semestre de Cinema e Audiovisual na UFMT, faço da produtora universitária Bora Fazer Filmes, e de projetos como o portal A24 Brasil e a realizadora de legenda Subsfiction”.