Trecho de “O Melhor Bloquinho do Carnaval” de Tayná Meirelles
Tayná Meirelles. Administradora, publicitária, escritora e roteirista. Autora de O Melhor Bloquinho do Carnaval pela PS Edições e de Hell City, 2050 pela revista Dixtopia. Saiba mais em taynameirelles.com.br.
***
Trecho de O Melhor Bloquinho do Carnaval de Tayná Meirelles
O trio seguiu até a Praça da Mandioca, também rodeada por barzinhos. A diferença era que a Praça Popular tinha estabelecimentos como o restaurante japonês mais caro da cidade, enquanto a Praça da Mandioca era ladeada por casas antigas com alguns bares improvisados, que atendiam por nomes como Bigode. Lá na praça, ficamos pulando e dançando ao som de axé, funk e até uma música do rasqueado cuiabano que os jovens adotaram como “pop”, pois desafiava as morenas a colocarem o bumbum no chão. Eu e Gabriela já estávamos ensopadas de suor, e já ia dar meia-noite. Achei que já estava bom de diversão, então resolvemos ir embora. Nos desvencilhamos da multidão, e nessa acabei vendo um rapaz bonito. Tinha o cabelo bem escuro e liso, olhos verdes, alargador preto na orelha esquerda, barba e um sorriso de quem não vale nada. Sabia disso, pois ele estava voltado para mim.
Até pensei em desviar e não passar por ele, mas uma coisa decisiva aconteceu. Do meu lado, bem do meu lado, estava Henrique com a menina do McDonald’s. A cara de “ferrou” que ele fez quando me viu não foi nada perto da cara que fez quando eu avancei no moço da barba e tasquei-lhe um beijão. Quem me disse isso foi Gabriela, porque eu realmente não vi. Estava ocupada em sair de cena, triunfante, sem nem olhar para trás. Foi um impulso tão impensado, que não dei nem oi nem tchau para o rapaz. Só ri e segui andando, puxando a menina pela mão. À medida que fomos nos afastando, foi batendo um medo. O centro da cidade era um lugar negligenciado em termos de iluminação e policiamento, o que gerava um ambiente propício para a venda e consumo de drogas. Ao chegarmos e estacionarmos perto do Metade Cheio, a multidão nos passava uma sensação de segurança. Mas, agora, com a multidão na Praça da Mandioca, teríamos que andar pelas ruas vazias. Apertei a mão de Gabriela com força e acelerei o passo. Pensei em voltar para a praça e tentar um Uber de lá, mas estava com a sensação de que tinha alguém nos seguindo.