Trecho do 1º capítulo do romance “E-DEMIA” de Gabriely App
Gabriely App é autora e poeta nacional. Já possui dois livros publicados, um de poesia (Pense, sinta, viva – Editora Paradoxum) e um de romance (P.S: Correspondências do Amor – Skull Editora). No final de 2023, o seu terceiro livro foi publicado, E-DEMIA (Editora New Naipe), o primeiro de ficção científica. Gênero que a autora ama e quer dar continuidade a várias histórias presas em sua mente. Seu objetivo com a escrita é sempre tentar passar uma mensagem positiva para os leitores.
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Trecho do 1º capítulo do romance E-DEMIA, de Gabriely App
O mundo virou um caos, na verdade já era bem antes da doença, eram muitas coisas ruins acontecendo o tempo todo, pessoas matando umas às outras por vingança ou dinheiro, pessoas gananciosas capazes de fazer qualquer coisa para subir ao poder, pai matando filho e filho matando pai. E matando milhares… a fome.
Mas aí então veio a praga…
Doenças sempre existiram na história da humanidade, algo que sempre perseguiu a humanidade, algumas surgiram muito fortes, mas logo desapareceram conforme o avanço da tecnologia e higiene, enquanto outras permaneceram. Em tempos em tempos surgia doenças novas, muitos vírus e suas variantes gerando epidemias ou pandemias, porém mesmo que demorasse um pouco, iam embora ou era quase erradicada, foi assim com a H1N1.
O que não sabíamos era que surgiria um novo tipo de vírus, que parecia ser igual a tantos outros que já tínhamos conhecimento, logo os cientistas fizeram o sequenciamento do genoma onde foi descoberto algumas coisas como a alta taxa de transmissibilidade.
Porém, nenhum laboratório ou grupo de médicos conseguiram definir a sua origem. Ninguém soube dizer se vinha do próprio ser humano ou algum animal.
No começo, todos ficaram perdidos e ao mesmo tempo esperançosos, visto que já havíamos passado por coisas parecidas. Como desconhecíamos os sintomas e se seria fatal ou não, o mundo continuou a funcionar normalmente, pessoas iam e vinham, estudavam e trabalhavam normalmente…
Mas aí veio o primeiro sintoma alarmante, a falta de ar… o primeiro caso isolado sem que a pessoa tivesse tido contato com alguém infectado… depois disso apareceu o primeiro caso em cada continente… depois todos os países do mundo… até que veio a primeira morte pela doença…
Algumas pessoas ficaram completamente desesperadas, não conseguiam dormir ou comer direito, outras nem ligavam, disseram que era apenas uma leve doença que logo iria embora.
No entanto, em pouco tempo, a coisa começou a ficar feia e centenas de pessoas adoeceram e tiveram que ser internadas… muitas morreram. Todos da área da saúde como médicos, enfermeiros e cientistas tiveram que trabalhar dobrado sem sair de férias. De centenas de infectados, o número foi a milhares. Sim, milhares de pessoas foram se infectando e morrendo. Depois de muitas perdas, finalmente veio a vacina e, no começo, pareceu adiantar alguma coisa, mas depois… o vírus voltou e pior.
Fronteiras foram fechadas, eventos cancelados e tudo parado. Mesmo assim o vírus não era erradicado, muito pelo contrário, cada dia mais parecia ficar mais forte, até que depois de muitas mutações ele se tornou cem por cento mortal. Ou seja, quem se infectava estava automaticamente condenado à morte. Como poderíamos viver assim?
Surgiram diversas teorias da conspiração, muitas pessoas não acreditavam e acabaram morrendo, até que ninguém mais podia sair de casa… literalmente para nada. Não podíamos mais ir ao mercado, farmácia ou hospital. Era necessário que todas as pessoas do mundo, as que sobraram, seguissem essa regra e ordem. Quase todos os tipos de trabalhos se tornaram home-office, e os trabalhadores que não tinham ou puderam se adaptar perderam seu emprego, sem contar as milhões de empresas que fecharam. O resultado foi um número nunca visto de desemprego no mundo todo, o gerou uma hiperinflação e fome.
Mesmo com regras e leis rígidas em todo o globo, alguns eram teimosos e se aventuravam a sair de casa, e simplesmente morriam, sim, todos os que saíam morriam. Mesmo com máscaras, as pessoas continuaram a se contaminar e a morrer, até que perceberam que sair de casa realmente não era mais uma opção.
Mas o mundo não podia parar, certo? E os hospitais, funerárias e cemitérios? Mercados e a agricultura?
Muitos médicos e enfermeiros decidiram morar nos próprios hospitais e centros de atendimento, muitos tinham a esperança de que tudo voltaria ao normal algum dia. Enquanto isso, com o tempo, algumas empresas acharam formas de adaptação, algo bem radical: trocar os funcionários humanos por máquinas. Isso mesmo, por robôs.
Com isso mais pessoas perderam o emprego e se viram ainda mais presas dentro de casa sem terem como se sustentarem. Ninguém sabe ao certo quem começou, mas em pouco tempo em grandes indústrias, fábricas, comércios e outros negócios, só se viam robôs. Eram eles que plantavam, colhiam e entregavam os alimentos, eles faziam roupas e todo o tipo de trabalho, noite e dia, vinte e quatro horas por dia, de domingo a domingo, sem férias e sem remuneração.
Os seres humanos ficaram em casa, entediados por um tempo, até se acostumarem e verem que as coisas não iriam melhorar. Era ficar dentro de casa e viver ou sair e morrer. Demorou, mas depois de um tempo ninguém mais saiu de casa, todos ficaram isolados, crianças não podiam sair para brincar com os amiguinhos, adolescentes e jovens não podiam voltar para a escola, os adultos não podiam mais ver seus pais idosos e amigos pessoalmente, pessoas namoravam à distância sem nunca terem se visto pessoalmente, e o engraçado foi que alguns casais que queriam se divorciar tinham que continuar a morar juntos, do contrário podiam sair e encarar a morte.