Três poemas de Allan Lucas
Allan Lucas. Formado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no curso de Letras – Língua e Literatura Portuguesa.
“Encontrei refúgio na poesia quando passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida. A poesia é essa janela aberta que possibilita a gente ver além do que os nossos olhos podem alcançar. Escrevo para eternizar as memórias e os sentimentos. Sou professor e adoro introduzir poesia nas minhas aulas, acredito que é uma forma de acalmar os ânimos dos meus alunos e fazer com que eles sintam a liberdade de escrever o que sentem ou observam”.
***
laborum meta
Da noite sombria no inferno verde
Se aleitam nas camas de pedra do São João Batista
Aqueles que um dia provaram do fruto da árvore da vida.
Mumificados em nossas lembranças
Guardando à sete chaves: o que seriam nossas esperanças?
Presentes no vento que nos refresca o rosto
A vida é realmente um sopro…
Da noite calma no inferno verde
Submersos no extenso rio de flores
Os corações descansam.
*
centro da cidade
O cigarro se desfez em cinzas
Aquele vinho barato chegou ao fim
Não mais a conexão carnal sem hora na banheira,
Afogamo-nos em nossas próprias incertezas
O silêncio ensurdecedor,
O telefone mudo
Os olhares do estranho-conhecido se indo…
Uma vez fomos crença, te lembras?
As aventuras no centro da agora são outras
Sinto-me pirata em águas desconhecidas
Aquele Hotel um dia foi nosso altar, te lembras?
Mas infelizmente acabamos nos perdendo
Na ilusão daqueles corredores insalubres
As ruas me recordam você
A 10 de julho, o Largo, a Rua São Sebastião…
Todos os cantos dessa parte da cidade
Gritam a droga do seu nome!
Uma vez Manaus foi quase nossa para sempre,
Lembras-te?
*
altar
Fim de cerimônia,
Carregando a última taça de champanhe nas mãos
Bebendo até a terminante gota
Daquilo que um dia foi esperança…
Os convidados todos já se foram,
Sigo só com esses pensamentos soturnos
E essa maldita gravata que me enforca
Recordando-me do sufoco que é estar sóbrio
No altar permanecera somente eu,
Encaro aquele estranho-conhecido no espelho
E ouço uma voz distante ecoar em minha mente:
“Ele seria um ótimo noivo, pena que é tão ferrado da cabeça”…