Três poemas de Carlos Souza Filho
Carlos Souza Filho, Niterói (RJ), dividido entre paixões maiores que ele, arte, academia e outras coisas mais, resolveu escrever e se arriscar para petiscar um pouco. Poeta em botão, às vezes traduz poesia no seu blog Dedalo e o labirinto: https://dedalolab.wordpress.com.
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Toda noite
É o fim da linha
Já se foram
tantas noites assim
Compondo esse denso
Tecido noturno
Tanto da noite
Quanto de mim
tantas linhas e tantos fins
Que não cabe mais
Nem a linha na lauda
Nem a lauda na linha
está no corpo
Inscrito em mim
agora fino feito folha
E no entanto
É justo nesse intento,
De escrever o inscrito
Que algo me ameaça
E escapa
O alvo sempre escapa
Para cruzar de vez, mais uma vez
O fim da noite
O fim da linha
*
Não tem
Para a tristeza
Para os que já morreram
Ou para os que ainda vão morrer
Para as esperanças já perdidas
E o tempo desperdiçado
Para os insensíveis
Convictos e determinados
Para as dores, invencíveis
Para a crueldade do passado
[que nunca passa]
E pra vindoura
[que sempre vem]
Realmente…
Se você pensar bem,
Não tem vacina
Para muita coisa
Mas que bom
Que para outras tem.
*
Pelas vias dos pés
para J.P
Com as minhas mãos
Percorro teus pés
À noite, na madrugada
Nas tuas ruas desertas,
Porque não tem mais trânsito
Porque não tenho pressa
Deslizo em cada curva tua
às vezes subto
outras suave
Pelas subidas e decidas
Da tua geografia
Ladeiras e Declives
Por ambos os sentidos dessa serra
Mãos e contra-mão e pernas
Sentindo nossos corpos na inércia
Atravesso essa cidade
Caminhos que conheço há tempos
Na extensão dos meus dedos
Como palma da minha mão
Me conduzo por você
Até de olhos fechados
Pois é no toque
Que guio minha condução
atento aos teus sinais
Cruzamentos e rotatórias
Conduzo-nos Nessa hora
Em que preferência é sempre nossa
Nunca antecipando a chegada
Por ter a certeza
De que nessa estrada,
Todos os caminhos
Me levam pra casa.