Três poemas de Christine Gryschek
Christine Gryschek (São Paulo, 1989).
Artista visual, da palavra e do corpo.
Psicóloga, pesquisadora e professora.
Escreveu “recomece, agora sem cigarro” (Ed. Urutau, 2019).
e “quantas festas” (Selo Hecatombe, 2021).
Vive e trabalha em Porto Alegre (RS).
Os poemas abaixo integram o livro “animal com dois corações” (Ed. Patuá, 2023)
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amar você enquanto segura minha mão no final de um domingo
e não mais
amar você enquanto debruça teu gesto no samba
e não menos
amar você portanto doce teu gosto teu destino
e não sei
amar você perto, firme, teu olho pedra me segura
e não sou
atenta, então, no entanto amo você
antes do adeus, aleluia
devorar você, desfazer as últimas cruzes
*
o dia em que me percebi
paixão procurava testar tocar
piano, tecla a tecla, a rima dos dedos louvando notícias
de amor, notícias de morte também
encanto no dia em que te percebi buscando inventar um enigma
de um enigma teu amor inventando uma música um beat
[um barulho
não sai da minha cabeça teu nome teu nome teu nome tua
[voz minha voz
nosso hino, samsara
*
te encontro na floresta do meu vestido
onírico você vem posto de joias
brilhante lua com anéis
saturno quando jovem me acenou
ameno sorvete dourado
derretemos rindo entendemos depois
de rodar tanto o encaixe das mãos
nos faz seguros, de cetro, de cadeira forrada em veludo,
e eu te louvo por ser espelho, xamã, dia
noturno quando traga
a fumaça dos espíritos seguimos
senda, pousada, também bingo