Três poemas de Elieni Caputo
Elieni Caputo nasceu em 1981 e reside em São Paulo, capital. Graduada em Psicologia pela UFSCar e em Letras pela PUC-SP, é mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC, doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP e membro do GENAM – Grupo de Estudos e Pesquisa em Literatura, Narrativa e Medicina. Publicou quatro livros: Laço de fita (Quixote +Do, 2022), Violência e brevidade (Penalux, 2020), Casa de barro (Patuá, 2018) e Poema em pó (7Letras, 2006). Seus poemas foram publicados em diversas revistas e coletâneas de concursos literários nacionais e portugueses.
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VÃOS
Agora o tempo se esvai, calmo e degredado. A chama da vida se parte na face do homem arruinado. As orações ecoam no cerrado, cruzam abismos e riachos, deságuam.
A quietude da sombra segue o passo do rebento: encolhido e pequeno, estica-se a cada passo. Seu silêncio fora rompido pelo primeiro balbucio, centelha do verbo divino acesa, humano apartado do infinito, do instinto.
Caem sóbrias as flores na alameda. Seu som vazio ecoa na terra, sem testemunha.
Todos dormem ao romper da aurora. O gado magro deita-se resignado na relva ressequida do cerrado. Ontem não mais existia. O futuro é uma mentira.
Do pó renascem a pérola, a criança faminta – na brisa perdem-se os dias.
*
Meus sonhos são
a repetição
do abismo
onde meu corpo
é lançado
e fisgado
em loop
infinito
*
PALAVRA PESADA
a língua me arrasta
a palavra no papel não me abraça
a brutalidade dos nomes
pesa na imaginação
a insônia é o peso do corpo
o sonho, a leveza insustentável
desvendo o silêncio
com o gesto que não para
quando a humanidade dorme
o grito irrompe do pesadelo inarticulado
que nenhuma língua é capaz de afagar
sem a mão que envolve