Três poemas de Fabio Weintraub
Fabio Weintraub nasceu em São Paulo, SP, em 24 de agosto de 1967. Psicólogo e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, realizou pesquisa sobre representações do espaço urbano na poesia brasileira pós-1990.
É autor dos livros de poemas Sistema de erros (São Paulo: Arte Pau-Brasil, 1996), Novo endereço (São Paulo/Juiz de Fora: Nankin/Funalfa, 2002), Baque (São Paulo: Editora 34, 2007) e Treme ainda (São Paulo: Editora 34, 2015).
Por Novo endereço, recebeu os prêmios Cidade de Juiz de Fora, em 2001, e Casa de las Américas, em 2003, o que lhe rendeu uma segunda edição bilíngue, em espanhol e português (Nueva dirección/ Novo endereço. São Paulo/Juiz de Fora/Havana: Nankin/Funalfa/ Casa de las Américas, 2004), com tradução de Lourdes Arencibia Rodríguez. Seu livro Baque também foi publicado em Portugal, em 2012, pela editora Língua Morta. Treme ainda foi finalista do Prêmio Jabuti 2016.
Além dos livros em Cuba e Portugal, teve poemas publicados na Espanha, no México e nos Estados Unidos. Coordenou para a Nankin Editorial a coleção de poesia brasileira “Janela do Caos” e participou por mais de uma década do grupo Cálamo, núcleo de pesquisa e criação poética ligado à Casa Mário de Andrade.
Os três poemas abaixo são inéditos.
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Sob nova direção
são miguel me protege
passei dos 50
nunca tive chefe
apenas mestres
que não mandavam em mim
de imediato aceitei
nem pedi pra pensar
no corredor de vidro
de cujo calor todos reclamam
fiz uma estufa de orquídeas
livros me acalmam
das contas cuida a OS
chamar de cafona o prefeito
foi só uma gafe infeliz
ele foi muito elegante
meu psiquiatra
não acha que é caso
para retratação
*
Criança
entre risos e relinchos
morde a chupeta
como a um arreio
morde a chupeta
égua-criança
de blusinha suja
catarros na face
ainda corada
pede boneca
colo chocolate
o ventre tão liso
antes da espora
lambe no arreio
restos de algum açúcar
muito velho
*
Sereia
num piscar de dentes
mamou todo o leite da sereia
único atributo que o atraíra
surdo que era
mas o seio da sereia
menos mamífera que fera
murchou feito um limão
vertido o caldo da ira
a sereia abraça o surdo
quebra-lhe as costelas
espreme
(esponja suja)
seu coração gorduroso