Três poemas de Girlene Verly
Girlene Verly é poeta, nascida em Araruama, RJ, há anos morando no interior de Minas. Tem formação em dançaterapia, é graduada, mestre e doutora em Letras pela UFSJ e UFMG. Participou de antologias de contos e poemas e acaba de publicar o livro O corpo sabe que é terça, mas se distrai pela Folheando. Este ano teve três textos selecionados para as Antologias Nós textos de autoria feminina, do Selo Off Flip 2023 e acaba de ser selecionada para uma publicação pela Patuá.
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Corpoema
o corpo letra
feito forma
feito palavra
força e frisson
o corpo silêncio
reticenciando tempos
alongando versos pelas pontas
dos dedos
o corpo-planta-ponte
plantando ideias
correndo mundo
abrindo portas
somente
aos que também
se alfabetizaram
na língua-mãe
do sentir
*
Provoca-dor
o corpo meu
que ora olho
de cor e odor próprio
nem sempre me protege
de outros corpos
de rude e plastificado
coração
corpos outrora agredidos por outros
corpos
que perseguem
suas dores perenes
em mim
tudo porque a primeira dor
foi cultivada
por um planta-dor
semeada em outro
em outro
e mais outro
em ciclos infinitos
onde se aprimorou
a colheita e o plantio
de lágrimas
*
Lavra
sou solta
sofisticada e ingrata palavra
quero fazer parte, ser ponte
passaporte, estrada
evocada
ao fascínio e ao combate
sou notícia e metáfora
narrativa nua
fato e fake
sou signo, forma e fonema
de larga bagagem
nos usos e abusos
da linguagem
estou em todas as bocas e
línguas
dentro e fora da norma
coisa
de uso culto e leigo
lançada em árdua e sofrida
lida
atravessada de afetos
vocábulo