Três poemas de Henrique Duarte Neto
Henrique Duarte Neto (1972) é natural de Taió (SC), onde reside. Morou também em Florianópolis e Curitiba. É poeta, ensaísta, crítico literário, professor e funcionário público. Já publicou mais de uma dezena de livros, entre estes os de poesia: Musas seguidas de poemas filosóficos (Florianópolis: Insular, 2019), Provocações 26 (Curitiba: Kotter, 2019), 34 pequenos exercícios poéticos (São Paulo: Primata, 2020), 3 em 1(Curitiba: Kotter, 2021) e Á espera do fantasma da liberdade (São Paulo: Primata, 2022). Muitos de seus poemas também saíram em diversas revistas nacionais, incluindo a Ruído Manifesto, Literatura & Fechadura, Zunái, Acrobata etc.
E-mail:
henriqueduarteneto@yahoo.com.br
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Poesia-liberdade
É o tiro no escuro,
à espera do fantasma
da liberdade.
É o ver e não ver,
fantasticamente
misterioso.
É a dor no pé amputado,
fantasia mesclada
com realidade.
É bem-querer e maldizer,
humanas contingências
de nossa volição.
É o beijo da morte,
certeza inerente
de quem é vivo.
É fazer das palavras demiurgo,
um modo de ludibriar
a finitude.
*
Inferno ou paroxismo
Despertar para a vigília eterna…!
Você e sua implacável consciência.
Sem possibilidade de refrigério,
descanso ou remissão da pena.
Sua alma como um deserto,
mas um deserto assombrado
por inquilinos fantasmagóricos,
que não abandonam o insone.
A luta para fugir de si mesmo,
pois que é a praga do cogito
multiplicada ad eternum,
em vista da consciência indissolúvel.
Bem melhor seria sobriamente dormir
o sono eterno! E afundar a mente,
a consciência no nada existencial…!
Mas e a intuição desta terrível paga?
Possa o paroxismo desta visão,
que projeta o mais vão dos infernos,
ser apenas delírio e angústia descabidas,
próprios de um sentir hiperbólico.
*
Lápide de papel
O poeta escreve e escreve,
adivinhando a vida curta
e o túmulo que lhe aguarda.
Mal sabe ele que não é só
a lápide no cemitério
que espera pelos seus despojos.
Mas, também, a morte poética,
em uma lápide de papel.