Três poemas de Isaías Gabriel Franco
Isaías Gabriel Franco nasceu em 1995, em Campestre, Minas Gerais. Passou toda a infância em São Pedro de Caldas, município de Caldas. É poeta, graduado em História e Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto, com mestrado em História. É autor de Poeminhas de Arruar e Poemas Limpos de Amor.
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mapa dos silenciamentos – morte e ressurreição de minas
O mar que era de Minas secou,
tiraram as ondas dos morros,
onde eu tinha os sentimentos mais fortes
que as ligas exportadas por dólares sujos de sangue.
O morro onde nasci
valia mais que o minério tirado de lá.
Não bastasse isso,
tiraram-me as casas
plantadas nas encostas dos rios,
cheias de lembranças
multiplicadas por mil em cada cômodo,
que também valiam por si mesmos,
toda a matéria-prima do amor.
O esplendor dos metais
me tirou filhas,
bens e sossego,
calou no monturo de lama
com o vexame mais sombrio
as vozes mais lindas
que eu queria suspensas
no horizonte azul do meu céu.
Tudo vale, o vale devastado?
Não.
Queremos tudo dignificado,
gente, bichos e passado,
por isso viveremos.
Uma voz soterrada não se cala nunca,
por isso, mesmo encobertas,
elas, ecoando, ficarão.
Para que a esperança desça e suba
sobre pedras e escombros
e entoada seja a canção da justiça.
Ressoando tão grande,
ela romperá infinda
bem maior que o mundo inteiro.
Então,
o mar de Minas,
de novo, se encherá.
*
morada das coisas
Existem restos
de coisas nas palavras.
Musgos no telhado de
de barro da linguagem.
Madeirame de letras,
laranjas e maçãs em podridão.
Idades,
margens,
horas.
O vivo de um peixe
saltitante
na água silábica da boca.
*
magma
A vida endurece os homens,
a poesia os liquefaz.
Até que tudo seja eternamente bruto
feito a raiz de uma rocha
edificarás palavras pequenas
para um mundo grande
até que nada te sobres mais.