Três poemas de Lilian Rocha
Lilian Rocha é natural de Porto Alegre. Autora dos livros A vida pulsa: poesias e reflexões (Alternativa, 2013), Negra soul (Alternativa, 2016), e Menina de tranças (Taverna, 2018). Coautora do livro Leli da Silva – Memórias: A importância da história oral (Alternativa, 2018). Coorganizadora da Antologia Sopapo poético – Pretessência (Libretos, 2016). Membro da Coordenação do Sarau Sopapo Poético, seus poemas são publicados em diversas antologias, publicações e redes sociais.
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A FOLIA ACABOU
A folia acabou
Olhos marejados
De saudade
Do sorriso solto
Da dança fácil
Dos pequenos flertes
Da sede inacabável.
A folia acabou
Saudade
Da verdadeira história
Retratada
Da liberdade de expressão
Das bandeiras
E gritos de alerta
Da empatia
Pela felicidade.
A folia acabou
Restou a reforma da previdência
A educação
Ladeira abaixo
O feminicídio
O genocídio dos jovens negros
O desemprego.
A folia acabou
Restou um Brasil
Que chora as suas dores
Lágrimas que tentam lavar
E curar
O massacre
Do trabalhador brasileiro.
*
Na boca
Salgada…
Ah, mareada
Sereias
Mergulham
No êxtase
Profundo
Do gozo
Da Vida.
*
PRECISO ANDAR
No primeiro instante
Uma tristeza profunda
A terra sob os meus pés
Treme
Uma incerteza
Paira no ar
Logo mais
A respiração se estabiliza
O reflexo e a memória
Se dão as mãos
Como assim resistência?
Por acaso em algum momento
Da vida
Deixei de ser resistência?
Meu corpo negro
Esteriotipado,objetificado
Sempre foi resistência
E não será agora
Que será diferente
Olhos mais abertos
Intuição
Audição da alma
Juntos de mãos dadas
Com os meus
Eu te cuido
Tu me cuidas
Nós nos cuidamos
E seguimos
Pois a bala tem alvo
E na palheta de cores
O gato pardo
É Negro!