Três poemas de Paulo Tassa
Paulo Tassa nasceu em 1985, na cidade de Manhuaçu (Minas Gerais). É escritor, preparador de textos e editor. Em 2018, estreou na poesia com caída (Letramento) e em 2021 publicou o homem à espera de si mesmo (poesia, Mosaico). Escreve esporadicamente para o Le Monde Diplomatique Brasil e tem contos, crônicas e poemas esparsos no Brasil e no exterior. Tem doutorado em literatura pela Universidade de Coimbra. Vive em Madri desde 2021.
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Três variações sobre o ardor (v.)
v. de fogo
: no rabo na peneira no parquinho
na urina da bexiga do menino.
se derramou de tanto querer
e do nada
desquis / por quê?
à queima roupa pele de preto
rachando no céu
y em van gogh vejo.
ontem alguém
trincando / duas pedras
hoje alguéns
trincando uma / pedra.
*
v. de simetria
eu fundaria:
um país no interior
do cogumelo / 150 olimpos
nos ocelos do pavão.
já vi antílope de frente:
dois chifres um trono / o leão
mesmo dormindo: tem inveja.
o dedo todos os dedos todos os corpos.
está por escrever: a
biografia do girassol os segredos
na cara da coruja / nos braços
de seda das borboletas / as manchas
acomodando
o sono dos pandas / uma antologia
de primeiras frases
dos melhores livros marginais.
será que a couve-flor sabe
que é um bonsai de árvore?
o que a camélia pensa sobre
ser perfeita?
que opinião ela tem
sobre si mesma?
deus quis assim: dizem.
*
v. do adeus
o vento grita na árvore / as folhas
voam ziguezagues:
tchau uahct
tchau uahct
y o outono chupa / o resto
do verde.
a esquina parindo
silêncios / o último capítulo
página parágrafo
linha letra / o livro.
todas as pombas da infância
fugiam de mim: nem com pipoca.
me vinguei
fugindo delas no tempo.
boleto boleto boleto.
a água do banho / no ralo
rindo na minha cara / leva
as minhas células
mortas ou cansadas.