Três poemas de Priscila Topdjian
Priscila Topdjian mora em São José do Rio Preto/SP, de onde escreveu o “entrenuvens” (ganhador do Prêmio Nelson Seixas), que reúne tanto os poemas da adolescência e da época que cursou Letras e Jornalismo, quanto os mais recentes, escritos até pouco antes que se firmasse a ideia da presente publicação. É docente de literatura e filosofia, como Mestra em Teoria e Estudos Literários, pela UNESP (Ibilce). Atualmente, desenvolve, na mesma instituição, mas em processo de doutoramento, pesquisa sobre a poesia de Álvaro de Campos.
“Entrenuvens” é seu livro de estreia, mas já participou de muitos outros. Seu poema “Lira dos trinta anos” foi premiado no “Concurso Nacional Novos Poetas” (2018), da antologia “Poesia Livre”, e o poema “Vocação para peste” foi o primeiro colocado no “Concurso Poesia na Cidade”, promovido pelo jornal Diário da Região (2021).
Para aquisição do “entrenuvens” (Editora Patuá), clique aqui.
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Três poemas da seção “A paixão tem mão de desgraça”.
Não será menos enigmática esta página
que meus seios nos seus braços,
nas páginas dos meus livros sagrados.
Você é, foi e será.
Volto a acariciar seu corpo com linguagem,
que é tempo sucessivo e emblema.
Agora seus cabelos brincam comigo,
misteriosos se esparramam
sobre minhas coxas.
Eu quis brincar com este encontro,
mas a textura da sua pele
me assombrou com ternura.
Estou aprisionada
na humildade de seu colo
com medo e desejo,
— dois rostos do incerto futuro –
Encomendei esta escritura a um lírico qualquer,
jamais será o que quero dizer.
Da minha vontade, caem esses signos:
que outra escreva o poema!
Amanhã serei uma mulher entre as mulheres,
mas receberei um cartão de Veneza.
Às vezes, projeto a saudade
no enlace desta maquinaria.
*
A paixão tem mão de desgraça
e, feito a linha transversal da palma, se mensura
por um sistema musculoesquelético
e frágil resistência à tensão.
Até que um rasgo a sangre
e, enquanto se contrai
no seu insuficiente espaço,
aprende, no tato,
que a mão fechada é tão só coração
de estranha forma:
o impacto a destrói,
uma desatenção a estilhaça.
*
quando os seus olhos
atravessam minha cavidade torácica
e batem contra o coração, pulmão, traqueia
de meu corpo esquerdo e pedregoso
os órgãos e nervos não atingidos
são as raízes da mais centenária figueira
são a ossada dos dinossauros com 113 milhões de anos
e as estrelas que suportam a massa negra e azul do céu