Três poemas de R. Paiva
Nasci na cidade do Rio de Janeiro em 1998. Meu livro de estreia, Cenas da Passagem, foi lançado em 2021 pela Editora Primata.
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Estudos de luz
I
comentário a um poema falso
Morrer já não é triste, disse
co’a voz pela metade, como
se a luz compacta escorregasse
pelo seu texto e o exigisse.
Morrer já não é triste, como
em nada é triste, você disse
abrindo ao meio uma goiaba
que nem quem tira gaze fora,
o coração nessa pitaia.
que você olha enquanto coça.
*
III
soneto desengonçado
Aquela garrafa verde-vinho
não insinua nenhum cristo.
Dilui metáforas, credos, signos
e outros delírios do espírito.
Aquela garrafa não tem vício
de linguagem, adjetivo.
Minha garrafa não tem
aparência nem ritmo de imagem.
Minha garrafa não tem substância
de espessura literária.
Caiu, quebrou. Mas tenho anotadas
num caderno de caligrafia,
linha a linha, por via das dúvidas,
suas dimensões plásticas em prosa.
*
IV
A luz ao meio, dividida,
é uma faca de manteiga
aberta, suja de mesa;
é a coisa pela mancha íntima
da blusa enquanto ela se seca
da forma sólida e brinca
junto à carne que descongela.