Três poemas de Raphael Paiva
Raphael Paiva nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1998. Dedica-se à poesia desde os 14. Seu livro de estreia, Cenas da Passagem, sairá pela Editora Primata.
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Cenas Marginais
I
O pai de meu pai
oscilava entre o metal e a rasa terra da roça;
rosácea terra à tarde, dedirrósea,
mucósea, a terra
aterra a tarde.
Cresci nas entranhas da terra, entredentes.
Amolei faca à mesa, como quem amola o espírito.
Lavei com sangue o corte,
não me esqueço.
Tenho a memória do aço.
Cidade, concreta indiferença,
guardamos a metafísica para o ócio,
quando somos gratos pela vida que temos.
De resto,
morremos
todos.
Ressentem pele, pulmões:
melaço dos dias.
Retintos brônquios, retinas,
retêm de cor sermões de ferro e carbono.
Oco da boca entoca um dizer sem papas, aspas,
língua.
Rosa-mucosa,
a tarde roça,
rosa-chumbo,
a pele: cora.
E o dia, num fechar de pernas, se censura,
mas tenho a memória do aço:
carrego de cor a cor e o cansaço noite adentro.
*
XI
despenca o verde
aos
poucos
verde
véu
verde
daninha
rinha de verdes
um subverde
outro diverte
às custas do que definha
mas findo aqui
do verde pra cá
é crueldade
minha
*
XVI
Folheio tua face em branco.
Dúbios,
são dois teus lábios.
O resto faço à fantasia, como Kaváfis fez Cesário,
alexandrino.
Inverno venta formas plasticíssimas.
Teu corpo,
traça,
um subcanvas
que cavo como cárie, ânsia, e trago
na ruína dos dentes.
Não só os sisos nascem deitados.
Leonardo
Grandioso fragmento Da Obra, Espero Por Mais Poemas!