Três poemas de Stella N’Djoku traduzidos do italiano por Prisca Agustoni
Stella N’Djoku nasceu em 1993 em Locarno, Suíça, de mãe suíça de origens italianas e de pai suíço-congolês. Obteve um BA em Filosofia e um BA em Ciência, Filosofia e Teologia das religiões. Atualmente trabalha para a Universidade da Suíça Italiana, para a TV Suíça (RSI) e como professora. Il tempo di una cometa (Ensemble, 2018) è sua primeira coletânea de poemas. Alguns de seus poemas foram traduzidos para o inglês, o francês, o alemão e o espanhol, sendo publicados em revistas literárias suíças e internacionais.
Prisca Agustoni nasceu na Suíça italiana, viveu muitos anos em Genebra, onde se formou em Letras e Filosofia e onde obteve um Master em Gender Studies. Desde 2002 vive entre a Suíça e o Brasil, onde trabalha como professora de literatura italiana e comparada na Universidade Federal de Juiz de Fora. É poeta, tradutora, autora de livros para a infância. No Brasil, integra o comité editorial das Edições Macondo e colabora com diversas revistas e editoras com traduções. Na Suíça, faz parte do conselho curador do Festival Literário Internacional Chiasso Letteraria. Entre suas obras mais recentes, os livros O mundo mutilado (Quelônio, 2020, Finalista Prêmio Jabuti), O gosto amargo dos metais (7Letras, 2022, prêmio Cidade de Belo Horizonte), Verso la ruggine (Interlinea, 2022).
Os poemas abaixo integram o livro Il tempo di una cometa (Roma, Ensemble, 2018).
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1.
Lembro deles
dos que morrem na primavera
Você os reconhece – poderia achá-los ainda
entre as flores
Havia chuva forte
alguém em casa te esperando
o rosto colado às portas
Há uma viagem no meio
ilhas e livros como lanchas
a travessia do mar
E silêncio
muito cinza para amar
E amor
demais para ficar
/
1.
Li ricordo
quelli che muoiono a primavera
Li riconosci – potresti trovarli ancora
tra i fiori
C’era la pioggia battente
qualcuno a casa ad aspettarli
il viso attaccato alle porte
C’è un gran viaggio di mezzo
isole e libri come zattere
la traversata del mare
E silenzio
troppo grigio per amare
E amore
troppo per restare
*
2.
Eu achava simples
percorrer cada dia os mesmos
corredores me sentar do lado da cama
colocava minhas mãos nas tuas
nossas semelhanças
entre as pálpebras e os álamos
A vida não termina,
você voltará para casa.
O que sabe
quem pendurou numa única crina
a espada que pende sobre a cabeça de Dâmocles.
/
2.
Trovavo semplice
percorrere ogni giorno gli stessi
corridoi sedermi al lato del letto
Rimettevo le mie nelle tue mani
le nostre similitudini
tra le palpebre e i pioppi
La vita non finisce,
tornerai a casa.
Che ne sa
chi ha appeso a un unico crine
la spada che pende sulla testa di Damocle.
*
3.
As mãos porém sabem
todo o sabor dos astros
têm lembranças de meteoros
de rastros
muito brilhantes
e sons.
Sussurre para mim
o entusiasmo como surpresa.
/
3.
Ma le mani sentono tutto
il sapore degli astri
hanno ricordi di meteoriti
di scie
luminosissime
e suoni.
Sussurrami tu
l’entusiasmo come sorpresa.
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(Fotografia [N’Djoku] de Valentina Mazza [detalhe em p&b da versão original colorida]).
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Prisca Agustoni:
diego rebouças
lindos demais, “ilhas e livros como lanchas”, que imagem maravilhosa!