Três poemas de Tiago D. Oliveira
Tiago D. Oliveira, escritor e professor, nasceu em 1984, em Salvador-BA, é graduado e mestrando em Letras pela UFBA, tendo passado pela UNL (Portugal). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados no Brasil, Portugal e Espanha. Participou também de antologias no Brasil e em Portugal. Publicou Distraído, poesia (Editora Pinaúna, 2014), Debaixo do vazio, poesia (Editora Córrego, 2016), Contações, poesia (Editora Patuá, 2018), As solas dos pés de meu avô, poesia, publicado no Brasil (Editora Patuá, 2019) e em Portugal (Editora Gato Bravo, 2021) e o livro Mainha (Editora Patuá, 2020). Lançou em 2022, pela editora Caramurê, o livro Para além de 22 – um roteiro poético da semana de arte. Escreve para o portal literário Letras In.Verso e Re.Verso. Foi finalista do prêmio Oceanos 2020 com o livro As solas dos pés de meu avô e também vencedor do Selo João Ubaldo Ribeiro 2020, pela Fundação Gregório de Matos e prefeitura da cidade de Salvador, na categoria poesia, com o original Soprando o vento.
Os poemas abaixo integram Para além de 22 – um roteiro poético da semana de arte.
***
A palestra de Graça Aranha
o primeiro evento dos três dias
diante da decoração do saguão
do teatro Municipal de São Paulo –
o estranhamento imediato do público
empunhando a prisão de mentalidades,
o novo que vinha vaiado e gritado
na abertura da semana em vinte e dois –
era a palestra de Graça Aranha,
“A emoção estética na arte
moderna”, que não manifestou
desagrados
no público que até reverenciou
o seu inegável (destoante)
academicismo enquanto os versos de
Guilherme
de Almeida e Ronald de Carvalho
criavam imagens sonoras
para a realização da
música do maestro
Ernani Braga.
José Pereira da Graça Aranha
[quem também apadrinhou a semana,
cuja ideia original ninguém sabe
ao certo de onde surgiu de
verdade] Fundador da Academia
Brasileira de Letras, a mesma que
dois anos depois se afastaria ainda
sob o efeito da marcante semana
de arte
que durou apenas três dias.
alegava a incoerência de estar
na academia e ser
modernista,
ele que abriu aquela segunda-
feira primeira, treze de
fevereiro
de vinte e dois, via-se
já sem a via de
retorno.
*
Ecos n .1
não há retorno na marginal,
só radares e placas
de velocidade.
um quedar sobre o espelho
enquanto as cores, os sons,
a vida é retida de soslaio.
dirigir é a linguagem
de uma fuga que não quer
chegar – o poema
sobre a mesa: soltar as mãos,
metadireção.
e nada é maior do que o acaso
em forma de canção,
de retorno para a avenida,
não há retorno na marginal
[coração ante coração
só as imagens que guardo
como versos
para um poema que não foi escrito.
carrego versos de um mundo inteiro,
de vários mundos, versos,
sou o poema que não foi escrito.
e observo os retrovisores,
a estrada,
meu corpo estático
levado
pelas ruas da cidade.
– não há retorno,
há apenas medidores,
inibidores de velocidade,
enquanto os animais cruzam a pista,
enquanto a flora paira
sobre a vista. invade.
estou cercado pela geometria
dos homens
e cheio de subjetividades,
e “Sublunar ” é o livro
que carrego no carona,
e a viagem. saúdo
o deus dos versos
livres,
mesmo presos
na cidade. abaixo
lentamente
o vidro da janela
e tento resistir ao capítulo
em que fecho os olhos ao vento,
[não há retorno
há apenas a estrada,
este peito aberto do destino.
*
Ecos n.2
Sofrê
Corrupião que embebedas a tarde:
— sofrê, sofrê!
Corrupião, diga-me a verdade:
— não crer, não crer.