Três poesias de Lohanna Alves Nobre
Lohanna Alves Nobre é uma mulher nascida nas águas do Vaza Barris, na terra onde o sertanejo ganhou o título de forte: Canudos-BA. Estudante universitária e poeta por paixão, participa de pequenos eventos culturais em sua cidade, onde usa a arte para resgatar o melhor em si e nas pessoas. É amante da filosofia, leitora assídua de Nietzsche e admiradora de Djamila Ribeiro, tem interesse na militância e dá longos passos para se tornar uma grande feminista e ativista ambiental.
***
Paradoxo
A gente quase morreu,
todo dia
debaixo dos retalhos de respiração, entre o desafio de se manter inerte
às sensações,
aos calafrios
por um triz, a gente não cedeu
afundados em maré rasa,
escondendo os frascos,
juntando os fios pela casa.
Sobreviver em segredo
enfatizando sempre o leito de morte,
qualquer coisa que nos aproxime dela, porque não se trata de não estar
se trata
de
anestesiar.
A gente quase morreu mas preserva a vida voraz,
incessantemente vivos,
em busca do desassossego
do que é fugaz.
*
Sistema
Meus ossos fracos e meu súor, são meus
nada ameniza a minha dor, nada, ela é minha
não cura
não passa
não respiro
não alivia.
Vazio imprescindível, faz parte de mim
aqui,
todo dia…
Queima, arde, lateja, pinica
e é meu, é tudo meu.
Como viver bravamente sem uma dor selvagem?
Sem todo dia sangrar,
pingar,
goteira
quase inunda de tanto estar,
estado de calamidade,
tenho estado em transe e não me perdoe a idade,
a carcaça é jovem
mas a alma é velha, sem vida,
sombria, beirando a eternidade.
*
Visão
existe um ponto cego no meu coração.
existe uma ponta que aponta, no meu coração;
conexão.
bronze antigo em um par de olhos,
que senti
ácido e seco,
goela abaixo, peito adentro.
dois círculos sonoros.