Um conto de Ana Luísa Moraes
Ana Luísa Moraes é de Goiânia e vive em Lisboa. É jornalista e faz mestrado em Mitos Contemporâneos.
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Iguaria francesa
Todos pareciam se divertir na festa. Encorajados pelo champanhe, que circulava livremente no salão, os convidados arriscavam passos de dança e gargalhavam. Deslizando cambaleante pela pista de dança, a aniversariante era vista sempre com um sorriso convicto, aparentemente ainda extasiada pela festa surpresa organizada pelo marido. Este, por sinal, não saiu do lado da esposa durante toda a festa, cuidando para que ela aproveitasse cada detalhe: levava pratinhos de comida morna, convocava o garçom para encher sua taça e servia de companhia enquanto ela conversava amenidades com os convidados.
Na saída, além dos derradeiros abraços e beijos, todos ganharam uma lembrancinha, um pequeno pacote embrulhado em um saquinho de veludo preto. No carro, voltando para a casa, a mulher decidiu abrir uma. “Abre com cuidado, é um pouco frágil”, o marido recomendou. Ela desfez o laço com a ponta dos dedos, segurando o saquinho no colo. A expressão de curiosidade estampada em seu rosto foi violentamente substituída por uma de pânico.
Retirou de dentro do embrulho uma pequena mentira, que se agitava como se fosse grande. “Alberto… eu… eu não acredito. Não acredito, Alberto”, disse a mulher, a voz falhando nas palavras finais. Alberto, sem tirar os olhos da estrada, abriu um sorriso sincero: “Gostou?”. Ao reparar no rosto da esposa, a resposta estampada nos olhos arregalados, cerrou a mandíbula: “Bom, Rita, se você odiou tanto assim é só jogar pela janela. Anda, faz isso”. Abriu a janela do carro e ameaçou arrancar a mentira da mão de Rita, que protestou: “Não! Alberto… eu… eu só… eu não sei, será que o pessoal vai gostar? Alberto, por que você não comprou um chocolate ou algo assim?”
Ele passou a mão pelos cabelos, parecia desapontado: “Eu mandei importar, Rita, vieram todas da França. É claro que eles vão gostar, todo mundo quer uma dessas”. Ainda indecisa, Rita abriu a mão e analisou a mentira —era engraçada, quase fofa. Fez carinho em sua cabecinha. Elas sorriram uma para a outra.
O marido, percebendo que estava prestes a convencer a esposa, usou sua cartada final: “Escolhi todas com os seus pais, eles gostaram tanto que até encomendaram algumas pra eles”. Rita sorriu novamente, virou o rosto para a janela e murmurou qualquer coisa. A mentira ainda aninhada na palma de sua mão, agora mais sossegada.
Alberto parou o carro na frente de casa e disse: “Pode descer. Tenho que dar um pulinho no consultório, não sei que horas volto”. Rita consentiu, sentindo um leve comichão na mão fechada. Antes de sair, virou-se para o marido e perguntou, apontando para os outros saquinhos de veludo jogados no banco de trás: “Posso levar as outras para dentro?”. “Pode, mas não todas. Posso precisar de algumas”, respondeu