Um conto de Bruna Areias de Camargo
Bruna Areias de Camargo nasceu em Santos, São Paulo, e, nesta presente data, há pouco completou vinte anos. Realiza licenciatura em Letras, Literaturas, pela UFMT, Universidade Federal de Mato Grosso e se apaixonou pela leitura ainda quando criança. Hoje, escreve pelo prazer de se sentir viva e vive em Cuiabá, Mato Grosso, cidade que aprendeu a chamar de lar.
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Éden
Dias chovem. As gotas que caem do céu, minutos. As nuvens, antes cheias e escuras, começavam a murchar e clarear; o tempo restante. Naquele momento, não havia sol. Mas também não era noite. Isso já não existia mais. Abaixo, a penumbra devorava, aos poucos, um vasto jardim.
Enormes árvores se retorciam, repletas de musgo e espinhos, enquanto a relva se espalhava pelo chão. Quem estivesse abaixo daquelas poderosas folhagens poderia facilmente acreditar que àquela vastidão de verde e marrom se resumia o mundo; não, aquilo ocupava apenas o espaço de uma vida.
Dos incontáveis corpos vegetais que estavam ali, poucos eram frutíferos. Também quase não havia flores, e as que existiam lá eram feias – fazia falta a luminosidade. Achavam-se, em meio àquela imensidão, as mais variadas recordações que se podia ter ao longo de toda uma existência humana, contudo, dentre elas, se destacavam duas, que encaravam uma à outra em uma batalha silenciosa: um imenso e gordo baobá, do qual surgia um amontoado de raízes entrelaçadas e folhas coloridas – parasitas, incapazes, apesar de suas tentativas, de sugarem a vida daquela elevada estrutura –, em volta de seu tronco repousava um curioso círculo metálico da cor dourada, que o circundava como um bambolê; e um magricelo e por pouco não sem vida salgueiro chorão, cujos galhos amarelados arrastavam-se até tocarem o chão, dentro dele, uma pequena fagulha cintilava, tão ínfima que, à primeira vista, poderia sequer ter sido notada.
Quando se observava de perto as duas gigantes, o chorão parecia encurvado ao vigoroso outro espécime, deixando que ele se sobressaísse não somente às demais, mas também a si mesmo. Porém, quando se fitava o jardim como um todo, toda a vegetação voltava-se ao breve brilho do interior do salgueiro. O que se escondia por trás daquela cortina de clorofila jamais seria revelado (nem mesmo tinha noção da sua própria existência!).
Era um botão de rosa, vermelho, pequenino e ainda sem desabrochar – nunca o faria. O fantasma de um sonho não realizado, do sonho que não se realizaria. Aquele “e se?” ficaria plantado ali pela eternidade, esperando por algo que os olhos fechados de um corpo enterrado debaixo da terra jamais conseguiriam realizar.
Ao fundo, o vento sussurrava: “você fez tudo aquilo que desejou? ”.