Um poema de Euzébio Schwartz
Euzébio Schwartz estudou letras na USP. Escreve poesia, crônicas e novelas. Seu primeiro livro será publicado pela Atlântico Books na Europa e Brasil.
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“O que permanece(?)
Parte I
Você tem me visitado em sonhos
E eu te vejo
Bonito e dourado
Com seu corpo em arco
Tremendo ao meu toque
Como eu ao seu
E as mágoas todas,
Outrora insuportáveis,
Não se colocam mais entre nós
Deixando livres os nossos peitos
Para tocarem-se
Eu te abraço as costas,
Beijo o pescoço
No lugar onde seu cabelo
Vai ficando mais ralo
E seus músculos constroem
Uma depressão entre duas montanhas
Finas e brancas
Você coroa a minha cabeça
Com as duas mãos
E é isso que somos:
Dois reis de nós mesmos,
Governando sobre a penugem do corpo,
Como exploradores de toda a sua montanha
Ordenando beijos o tempo todo.
Parte II
Enquanto a sua coroa de mãos
Aperta forte a minha cabeça,
Eu te presenteio com as melhores joias
Feitas de beijos
Deitadas sobre sua pele branca, arrastando o seu sabor
Desde seus territórios mais secretos
Até o ambiente mais alto de sua tez branca
Ao passar as mãos na sua barriga,
Sua maciez, uma brancura que agora eu conheço, um sabor salgado,
Fruto nosso
Vejo que compartilhamos o mesmo arrepio
E você se aproxima tanto que em breve
Seremos um
Todos os outros não existem mais
Apenas você e eu
Nesse quarto irreconhecível,
o fruto da nossa noite:
Te conhecer inteiro, nos vermos face a face
Parte III
Mas a noite acaba
E você não está,
Como nunca esteve,
Nessa cama cheia de vazio
O que eu sinto
Está apenas em mim
Como não há você por perto,
Só me resta indagar
Se você também sentiu o que eu senti,
Se essa noite tão linda
– A maciez com que as sombras deitam as nuvens no céu, seu cheiro úmido, suas estrelas inefáveis
Foi também sua
Ou só minha
pressionado pelo teto branco
E os meus pensamentos
Me pergunto se você também sentiu
Esse amor tão denso
Ou se dormiu calmo a noite inteira
Se você foi meu rei e vassalo
Ou se sonhou com uma infância que se foi
Onde quer que você esteja
Num soco súbito,
As paredes brancas sobre meu corpo só
Que jamais tocará o seu