Um texto de Dylla Vicente
Dylla Vicente é natural de Alagoas. É professora de Língua Portuguesa e Arte Educadora em Literatura. Tem prosa e poemas publicados e selecionados em revistas e antologias literárias, como Selo OffFlip, editora Absurtos, revista Ruído Manifesto, Littera7, entre outras. O Dorso das Nuvens Pardas é seu primeiro livro, publicado pela editora Patuá.
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Bromélias
Às margens daquelas ruas cristalinas, sob um rubro despertar de nostalgia, qualquer que seja essa memória.
Devo ao silêncio pedir para ficar.
Eu carregava minha bagagem nas costas, um turbilhão de coisas que bordei nas estradas, enquanto a costura que feria os pés ainda resistia em minhas pegadas.
Eu queria ser a moradia dos sonhos de casa, ter feito do verão um indício de chuva passageira. Porém, naquela tarde, recolhi o peito em folhagem, bordei o terço das rosas sob minhas palavras, sem sentir em qual momento as chorei, olhei para o alto; testemunhei o vazio de sua falta.
A incompletude residente nos anos infantis – eu deixei que terminasse em mim, que finalizasse o entardecer dessas bromélias sem fim,
como se a vida fosse o afeto das letras intransitáveis, e viver ainda seja uma questão de doação, mediante a qual submeto minha verdade.
Qualquer que seja sua lembrança, ao desdobrar a rua, por um único instante, meu coração não pode conter a manifestação antecipada das lágrimas.
Enquanto a mãe não olha e diz que as palavras mataram sua alma, que eu morrerei pela ausência da fala, que um eu te amo não quer dizer quase nada.
Talvez fosse verdade… E a verdade, quando não é dita, logo se torna uma omissão. Eu te amei, pai.