Um trecho do romance “As 35 Vidas de João Sabella” de Jack Scarpelli
Jack Scarpelli. Escritora, roteirista e fotógrafa. Nômade, escreve a cada 15 dias o diário público de viagem “Pessoas Imaginárias”- PI, no substack. Já trabalhou em projetos para a Disney, Globoplay e plataformas de áudio. Publicou em coletivo de escritores o livro Itinerários para o Caos e a coletânea Lava sob a Neve. Seu primeiro livro solo é o conjunto de prosas breves As 35 Vidas de João Sabella. Nas redes sociais mora no @pessoas.imaginarias.
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Trecho do romance As 35 Vidas de João Sabella de Jack Scarpelli
Capítulo 3
A larva
Fossas Marianas, cerca de 11 mil metros da superfície, na escuridão profunda, gametas masculinos encontram gametas femininos e uma larva surge. João e seus oito mil irmãos nadam pela primeira vez, experimentando o fenômeno chamado vida. Anelídeos coordenadores do departamento de orientação vital aos recém ingressos explicam aos novatos que eles são animais, pertencentes ao gênero Sabella, típico da família dos Sabelídeos, constituídos de vermes poliquetas marinhos. João não pode acreditar, entre tantas possibilidades nasceu um vermezinho. Imediatamente, reclama aos coordenadores, que habituados a tal indignação, explicam com voz cansada que estatisticamente uma nova vida tem maiores chances de nascer um verme, um plâncton ou um inseto. No mais, ser um verme Sabelídeo não é assim tão ruim, eles possuem elegantes brânquias expandidas em leque, além disso, são os únicos entre os anelídeos que podem secretar um tubo córneo-membranoso para viver dentro, em resumo, João poderia cagar a própria casa. Feito que sequer os humanos são capazes de atingir. Resignado ao próprio destino, João inicia a construção de sua moradia. Um pequeno cubículo, conjugado ao condomínio, onde os sobreviventes entre seus 8 mil irmãos também viviam. Para dar ao seu lar um toque especial, ele adiciona micropartículas de à decoração. Seus irmãos o copiam e logo outras comunidades de Sabelídeos. Assim nascem os famosos recifes abissais de plástico, descobertos numa expedição marinha no ano de 2059.”
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