Uma crônica de Emanuela de Sousa
Emanuela de Sousa é de 1991, nascida em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Desde criança sabia que a arte era o seu caminho Fez teatro, pintura, desenho mas, foi na escrita que se encontrou.
Hoje, Emanuela estuda Jornalismo/ Comunicação social e tem 2 livros publicados.
Em 2023 lançará seu terceiro livro de prosas pela CJA Edições.
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Ignorar a realidade é o melhor exercício para sobreviver
Falei isso enquanto umas semanas atrás enquanto me afundava em serviços. Pautas, textos para entregar e uma lista que fiz no meu celular somente para desviar dos pensamentos de tristeza que insistiam em perturbar minhas noites.
Viver é perigoso, já dizia Guimarães Rosa, e sobreviver é ainda mais, pois estamos a um passo do precipício, mas não olhamos com atenção, vamos dançando, com vendas nos olhos enquanto esperamos o raiar do dia. Sabe-se lá até quando perduraremos…
Tudo é um mistério e está perdido no ar.
Tu não irás me ver reclamando da enxaqueca de tanto trabalhar, do desamor, da falta. A lembrança do teu rosto pretendo nos próximos dias não o buscar, devo admitir que, ao anoitecer, tenho revirado a caixa de memórias.
O exercício de sobreviver ao caos é justamente ignorar tudo a nossa volta, desligar a TV para ignorar a violência, as injustiças, as besteiras que vemos nas redes sociais na intenção de nos entreter, muitas vezes, são só lacunas que desejamos preencher.
Tenho me feito de cega e de surda, é verdade. Tenho vivido pouco, lido mais literatura, apostando no recolhimento. Disseram que enlouqueci, tolos são eles. Estou de fato protegendo o pouco de sanidade que me resta! É impossível viver lúcido consumindo apenas a realidade, necessário alienar-se, se fazer de louco, fingir desinformação. Só assim alcançaremos a lucidez para viver. A literatura está debaixo dos nossos olhos para isso. Tão pouco me interessa o intelecto da literatura, a realidade paralela que ela conduz é bem mais interessante.
Prometo viver mais nos próximos meses, sobreviver menos. Prometo atravessar a rua quando encarar os olhos de quem me evita, prometo não escolher o quarto como único canto do mundo para minhas lamentações corriqueiras. Prometo abrir o coração somente quando me sentir segura, prometo não mais fazer de alguém uma cidade (tudo tem limite). Prometo não abrir mão da minha sensibilidade, prometo resiliência.
Mas por enquanto quero o livro, o quarto, o silêncio, o recolhimento.
A queda é livre, e todos vamos cair.