Uma prosa poética de Cau Ferreira
Cau Ferreira escreve e sonha. Caminha para uma utopia onde as palavras e o seres se fundem em alteridade e felicidade.
***
Brabuleta
Meu pai é uma nascente.
Está sempre a contar coisas inventadas e brotar palavras.
Minha mãe reveza entre indignações e risos, com tantas histórias.
Uma vez ele trocou nossa TV por um saco cheio de pares de sapatos. Sociais, esportivos, pretos, marrons, coloridos.
Um negócio que tinha feito com um chinês lá no Centro e ainda ganhou quatro cintos de brinde. Imperdível!
Ele aprendeu mandarim só pra fechar a troca e depois esqueceu como se fala. Nunca mais o pai falou em mandarim, mas lembra como começou a falar depois de colocar um boné vermelho que ganhou de um cigano.
O boné acabou indo de quebra com a TV (pra compensar pelos cintos), e com a troca foram-se também as habilidades de falar aquela língua.
Os sapatos viraram, carros, casas, patins, telefones, chapéus e tudo mais que a infância permitisse a mim e meus irmãos.
Com nosso pai aprendíamos a necessidade de inventar a vida. Onde às vezes faltavam coisas, sobrava afeto e palavras novas.
Das muitas palavras que ele nos ensinou, a mais bonita é “brabuleta”. Aquele ser tão frágil, se dito como nos dicionários, ganhava na boca de meu pai a força de cinco elefantes: “brabuleta”!
Ninguém podia com aquelas asas. Nem mesmo o vento as vencia.
Divalte Garcia Figueira
Tenho um poema que está mais para prosa Poética e gostaria de saber se posso enviar para você.