Uma prosa poética de Matheus Guilherme Antunes
Matheus Guilherme Antunes, poeta de 23 anos, é cuiabano alérgico a frio. Atua como professor de redação na Rede Adventista, bem como é corretor de textos acadêmicos e de redação. Começou a compor músicas aos nove anos e a poesia iniciou aos doze graças à Helena Maria Cortez, sua professora-heroína, que o apresentou aos grandes: Drummond, Hilda, Vinícius, Clarice e Cecília.
Quando vai à prosa, sente que está diluindo seus versos. No momento atual, formou-se em Letras Português e Francês na Universidade Federal de Mato Grosso, sendo um dos idealizadores do sarau artístico do Instituto de Linguagens, atual projeto de extensão SarArt – Entre Línguas e Letras, do qual faz parte da Comissão Organizadora. Além disso, foi bolsista FAPEMAT, dando os primeiros passos na iniciação científica, seu foco, sob orientação pelo professor Vinicius Carvalho Pereira, é acerca da instapoesia mato-grossense, a qual faz parte do guarda-chuva da pesquisa “Crítica e preservação da poesia digital mato-grossense” de seu orientador, Matheus pretende seguir com esse objeto de pesquisa no mestrado. No mais, seus poemas e haicais transitaram na revista Ruído Manifesto, além de ter sido selecionado em 3° lugar na categoria poesia no primeiro Concurso Rodivaldo Ribeiro de Literatura com o poema Margens Secas e selecionado para participar da coletânea do Prêmio Off Flip 2024 também na categoria poesia.
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Mais uma carta de amor ridícula
Amores impossíveis me parecem mais fáceis, talvez porque eu preciso da certeza para lidar com a ideia de me entregar, mesmo que essa certeza seja negativa, um amor com data marcada para o fim, serei seu, enquanto dourar em nossos olhos o brilho das retinas um do outro. Me conte esse segredo, que tanto esconde debaixo da risada, me diga o seu medo de infância, o que gosta mais de fazer domingo à tarde, o sol para você é mais amarelo ou mais laranja? Saiba que quero sua alma ao lado da minha, mesmo que nossa eterna jornada seja o fim derradeiro de uma breve viagem, mesmo que seja um amor verdadeiro, mas só de passagem. Quero viver o agora sem pensar no amanhã, se temos pouco tempo, é porque é esse tempo que nos foi dado, não podemos discutir com a história, ela bem sabe o que faz, podemos apenas lidar com essa ideia, estou me entregando ou me convencendo a fazer isso? Ando a te escrever mil poesias no vento e nunca as lerei em voz alta, talvez em sussurros eu lhe diga, cada palavra mínima, pois quando suas pernas prendem o meu corpo e nossas bocas dançam, o mundo e suas distâncias me parecem inofensivos. Eu deveria prometer algo impossível? Por mais que eu tenha lido mil vezes os romances mais clichês, não posso usar das palavras para simplesmente dizer impossibilidades a ponto de que a distância, em um salto de fé, te pareça mais pequena. Amar algo me parece difícil, mas você me tem por inteiro e talvez isso se explique porque, como o fascínio bobo da primeira vez que vemos um universo todo dentro de um globo de neve, você também faz meus olhos brilharem devagarinho somente com o som da sua voz a enfileirar palavras, até que me perco em seus olhos de bronze e noto que tu és charmosa do mindinho ao sorriso e isso me faz ter a certeza, esse sol que queima a capital pantaneira, é frio comparado ao que temos em nossos corações, pois se pudéssemos, ah se pudéssemos, com os nossos beijos incendiários, poderíamos queimar essa cidade, reduzindo-a a pó em um simples ato intenso: amar as vísceras e os avessos, pois tudo vale quando se é verdadeiro.