Trans-eco: vozes que se somam – Por Esteban Rodrigues
AZCH
Diz uma lenda que Sol e Lua sempre foram apaixonades um pelo outre, mas nunca podiam ficar juntes, pois a Lua só nascia após o por do Sol. Sendo assim , Deuse na sua bondade infinita criou o eclipse como prova que não existe no universo um amor impossível…
… Mas nem todos tem que ser pra sempre. E tudo bem.ESSE ERA O PLANO LEMBRA?💞
E sobre aproveitar o espetáculo do eclipse a cada minuto para que qualidades naturais brotem e saber que as faces do amor podem mudar. E aprendermos a nós relacinar uns com os outres com responsabilidade e liberdade. E escalar montes juntes e se não der certo descer sem despencar e a amizade continua.
E show da vida sempre tem que continuar. Sol vai estar todas as manhãs fazendo seu espetáculo diário e Lua nos contemplando todas as noites. Ambos inspiração para casais apaixonades. O amor se transforma não se extingui. O amor é único o que muda é a forma de amar.
É certo que a pessoa vai te amar não dá forma que esperamos mais o sentimento sempre existirá.
Eu já vivi um eclipse foi lindo e intenso e você?
Azch musicista, atriz, poeta, coordenadore artística na A.A.P.P.RJ, digital influêncer nas horas vagas. Nasci em Natividade RJ, onde fiz teatro pela primeira vez e participei ativamente em movimentos politicos em prol da arte e cultura. Participei de ONGs e eventos onde pude entrar em contato com meu lado artístico. Com 20 anos fui para Rio das Ostras para me profissionalizar em Artes Cénicas, onde fiquei por 10 anos. A um ano me mudei pro Rio de Janeiro pra me entregar a esse ramo. E através de Jaqueline Ayo e Rothyer Kali (hoje minhas mothers) me encantei pelo Vogue e comecei meus estudos sobre a cultura Ballroom. Foi quando fui convidade pra os treinos da House of Alafia e hoje tenho honra de fazer parte de uma família incrível que me acolhe!
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RALPH DUCCINI
Vida e Morte Transeverine
Imagina:
Coração arrancado
Peito boca aberta
Ocó rondando na esquina
Teu sangue vertendo
Sanguessugas no asfalto
Severina,
A faca feita farta
Com teu membro cravado
Erguido no cabo
E uma santa enterrada na sua vagina
É essa tua sina
Pescoço aberto
Degolado no motel
Por um adé fontó
Que sem coragem de dar o fiofó
Prefere
Enfiar a lâmina no ventre
Da sua vontade,
Calando o grito
No teu silêncio de boy;
Travessia transloucada
Retirante colocada na existência
À toda prova: Resistência.
Resiliente sentido
Que dá Vida
A partir de um princípio
De negação.
Quem sabe seu nome?
Cadáver Severine que a terra
Não cansa de engolir
Quem sabe seu nome?
Colorê esquecida na calçada
Perdide sem língua
Numa terra vetada ao pajuba
Não recomendade
Corpo
Palavra
Amor
Vontade
Ter no peito um alvo
Para cisnormativa artilharia
Mas quem sabe seu nome?
Vida e morte nessa pátria
De Ser-tão asassinade
Mais que em qualquer outro lugar
Que nesse globo se ilumina
Mas quem sabe seu nome, Severina?
Quando vem a mão branca da proibição
porta do banheiro,
porteira de casa
O grito de horror, confusão
na vista de quem não entende
Mas quem sabe seu nome?
Dandara, Soren, Bruno, Thiago, Beatriz
Ralph
Direito a ti tão negado
Que até no túmulo é velado
E de tão seu se trava
enterrado abaixo da língua
À sete palmos
Nessa Morte e Vida
Severine.
Ralph Duccini, transmasculino não-binárie, cresceu na baixada fluminense e tem seu fazer artístico impelido pelos questionamentos que sua vivência traz. Poeta, ator, diretore teatral e tatuadore. É artista multimídia, membro do grupo de teatro Uivo Coletivo (@uivocoletivo), gestore da sede cultural Casa Uivo e autore dos livros “Nas Margens do Azul” e “Dissonância Subjetiva ou o ser e a fumaça”. É membro da Universal Zulu Nation, capítulo Atcon – RJ, slammaster do Slam da Rampa (Paracambi/RJ) e da coletiva Transpoetas (@transpoetas).
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GIL PORTO
Estive aqui, conversando com meus botões…
Os mecanismos do corpo são absurdos, não é mesmo?
Ciborgue máquina, orgânica ou não
– metáforas não faltariam, se examinarmos com cuidado.
Há lugares no corpo que funcionam como um botão
Por exemplo, as têmporas
Essa lateralidade perfilada,
centro da imagem de quem faz a egípcia
Como botões em que os dedos encaixam,
são verdadeiros temporais
Se bem manejados,
um acalanto:
pressione aqui e sinta um gozo profundo do seu ser
Facilmente, a mim colocam pra dormir
Parece que conectam algo entre pensamentos, maxilar,
com cabeça, tronco e anseios
– anatomia da autonomia
Existem vários botões, afinal
Lugares que disparam sensações
Zonas inteiras que, erógenas,
presentificam o prazer em si mesme
Dizem que os mamilos poderiam ser também
Eu confesso que não sei
Sei é que regras únicas não se aplicam a corpos diversos
Os meus mamilos são insensíveis
Já me negam prazeres faz tempo,
não saberia dizer quanto
Quando tocados pela camiseta,
na verdade,
geram angústias
Levam pra um estado mental atribulado
Acho que eles conversam mais com o que dizem os olhos alheios
– que invariavelmente tem sempre o que dizer.
Disse-se também que o formato do mamilo difere do homem pra mulher
E eu pergunto:
– quem se importa, por que se importa?
Queria poder andar sem camisa
talvez o vento,
a chuva
ou água do mar,
em conversa secreta
– ainda que aos olhos de todes –
dissessem coisas mais saborosas
sobre esses botões
– se ao menos florescessem…
Gil Porto Pyrata é uma pessoa transmasculina não binária, reside hoje em São Paulo. Artesão sonoro, performer e zineire trabalha as relações entre linguagens e uma escrita a partir do corpo.
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Assinada por Esteban Rodrigues, Ogiva Transpoética é coluna autêntica. Com desvios, inclusive. É um espaço de percepção, reflexão e interação, onde se alimenta a vida com vida. Atravessado por textos ensaísticos e poemas motivados, não apenas em primeira pessoa, aqui vai repousar a realidade bruta do que alcança a transgeneridade de forma sistemática, social, emocional, violenta, afetiva e política. De quinze em quinze, para dar tempo de processar/digerir/degustar a palavra lançada, haverá reflexos de pesquisa e de poética transcrita e exposta a céu aberto. E, ocasionalmente, o tempo feche após isso. As letras aqui dispostas passearão por espaços julgados não nossos: filosofia, literatura, política, teatro e rua. Tudo para dizer o que há muito é dito, crendo dessa vez no espaço da escuta. Essa coluna, que alcança tantos corpes no mundo, existe para mostrar que aquilo que grita também pode ser chamado de cura.
Esteban Rodrigues, 25. Homem trans, negro, do subúrbio de Salvador. Autor das obras Sal a gosto (2018) e Com mãos atadas e como quem pisa em ovos (2021). Integrante das coletâneas Poemas de Amor e Guerra (2021), Corpos Transitórios (2021) e Transmasculinidades Negras (2021). Graduando em Letras Vernáculas com Língua Estrangeira Moderna (UFBA). Pesquisador de gênero e raça, escritor, professor, produtor cultural, roteirista, multiartista. Diretor Cultural do Mister Brasil Trans, 1° concurso do mundo e no universo da moda focado em transmasculinidades e suas representações. Integrante dos coletivos TransPoetas e CATS.