8ª Mostra CineCaos: “Ewé de Òsányìn: o Segredo das Folhas” (2021) – Aline Wendpap
Ewé de Òsányìn: o Segredo das Folhas. Direção: Pâmela Peregrino. País de Origem: Brasil. 2021.
Apresentada por Ìtàn – Cinema Negro de Animação e pelo coletivo Ekàn, este musical de animação belíssimo é baseado no livro Òsànyín: Os segredos e Mistérios das Folhas Sagradas de Alzení Tomáz, que aliás participa da equipe como produtora.
A narrativa apresenta a história de um menino que, desde o nascimento, tem a particularidade de ter folhas crescendo em seu corpo e a capacidade de curar. Por conta disso sofre discriminação na escola, assim ele corre e foge para a floresta. Na Caatinga, ela conhece seres encantados de tradições indígenas e negras e caminha em uma aventura de autoconhecimento. Sua busca a leva a Òsányìn, o Orisà das folhas, que apresenta o poder das usinas e a importância da preservação ambiental.
A abertura já é uma obra-prima à parte, mas serve para indicar quão arrebatadora é a produção, que, começando pela fumaça dos créditos iniciais, gera todo o ar de mistério que envolve a trama, assim como as cores vibrantes em tantas variações de verde, seguindo pelo movimento de câmera suave que vai deslindando o cenário detalhado, culminando com a música sob a direção de Marron, que certamente potencializa a já pujante direção de Pâmela Peregrino. O cordel dá um charme muito especial à produção e a escolha desta linguagem para apresentar o personagem e o cerne da questão parece ser muito apropriada, pois, além de poupar várias cenas de contextualização, também dá uma quebra e funciona bem como ponto de virada.
Quem já fez, pelo menos, um exercício de animação sabe o trabalho que dá, toda cena neste contexto, mas fazer isso com precisão e esmero torna tudo ainda mais complexo. E, cada um dos 22 minutos e 28 segundos desta animação é muito bem pensado e executado. Há sim algumas “barrigas”, entretanto, elas são mais no aspecto do tempo de algumas cenas e não da técnica. Em minha opinião, algumas partes poderiam ser mais suscintas, como na duração das músicas, mas nada que comprometa o resultado final, até porque as músicas são contagiantes.
Muito interessante como eles conseguem unir diversas formas de animação, desde o stop motion, passando pelo desenho, dentre outras. Os efeitos especiais são lindos, especialmente os que apresentam a magia, ainda que aparentem simplicidade denotam também processos de transições das trocas de técnicas altamente bem executadas.
Recomendo muito, porque, além de lindo, com música contagiante, a temática abordada é de muito engajamento e necessária para a luta contra os diversos tipos de preconceitos que infelizmente ainda temos de enfrentar.
* Texto escrito a partir da programação da 8ª Mostra CineCaos (Cuiabá-MT), exibida online e gratuitamente no serviço de streaming brasileiro Darkflix no período de 01 a 10 de maio de 2023.
**Aline Wendpap é cuiabana “de tchapa e cruz”, nascida em 1983. Primeira Doutora em Estudos de Cultura Contemporânea pelo PPGECCO da UFMT, Mestre em Educação pela mesma Universidade, Bacharel em Comunicação Social – Habilitação: Radialismo (UFMT), integrou o Parágrafo Cerrado, coletivo dedicado a leituras de cenas de espetáculos. É autora do livro A Televisão sob olhar das crianças cuiabanas (2008, EdUFMT).