“Os Fabelmans” (2022) – Por Janete Manacá
É tempo do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.! Como todo ano, a premiação, também conhecida como Oscar, supostamente indica e condecora os melhores filmes, atuações e trabalhos técnicos da temporada. Um propósito no qual falha, às vezes de modo ofensivo para os amantes da sétima arte, desde 1929. O que ocasiona decepções e polêmicas, aumentando seus detratores. Oscar, afinal, é honraria da indústria e não reconhecimento artístico. Por outro lado, o troféu tem seus admiradores, que se sentem representados pelas escolhas da Academia e até promovem bolões. Mesmo críticos de cinema têm esse hábito.
Independentemente do amor, da repulsa ou da indiferença, o “The Oscar goes to…” segue cativando e movendo cinéfilos, confirmando o lugar da festa hollywoodiana como a maior cerimônia de premiação de cinema que existe no mundo (cuja audiência diminui ano após ano).
Como amamos cinema (e assumindo as incoerências da vida), convidamos escritores, críticos e estudantes de audiovisual para escreverem sobre alguma das 10 produções indicadas à categoria principal: a de melhor filme.
Para abrir o especial Oscar 2023, temos a poeta Janete Manacá e Os Fabelmans de Steven Spielberg.
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Os Fabelmans. Direção: Steven Spielberg. País de Origem: Estados Unidos, Índia, 2022
O drama Os Fabelmans, lançado oficialmente no Brasil em 12 de janeiro de 2023, foi baseado na infância e parte da adolescência de Steven Spielberg. Considerado uma das pessoas mais importantes da história do cinema, ele possui o maior número de filmes no ranking dos 100 melhores de todos os tempos.
A paixão de Spielberg pela sétima arte chega bem cedo em sua vida e é propiciada pelo impacto de sua primeira vez em uma sala de cinema, acompanhado pelos pais. O personagem que o representa é Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle). Seus pais são Burt Fabelman (Paul Dano) e Mitzi Fabelman (Michelle Williams). O filme conta também com as suas irmãs, avós e o melhor amigo do seu pai.
Os sonhos da vida adulta geralmente nascem quando somos crianças, muitos nem chegam a aflorar, embora esse não seja o caso de Sammy que até tentou seguir outros rumos, mas acabou desistindo. Com isso, nós que também somos apaixonados pela sétima arte fomos contemplados.
A trama acompanha Sammy por meio de suas memórias, que permeiam a sua infância e o seguem na vida adulta. Embora nem tudo seja como gostaríamos que fosse, algumas situações causam estigmas que só com o decorrer do tempo será possível ressignificá-las. Spielberg demorou 17 anos para trazer à luz da arte a sua história. Com certeza, será lembrado como uma grande inspiração para gerações futuras.
Os 151 minutos do longa-metragem são marcados por recordações da vida transmitidas com simplicidade. Os pais são acolhedores, as irmãs são parceiras nos laboratórios “cinematográficos” do dia a dia. Com isso, eles se divertem muito. Mas os conflitos também são visíveis e fazem parte da nossa travessia no mundo. Afinal, os nossos corpos não são clausuras de lembranças doloridas, às vezes há que se esvaziar para não adoecer.
O olhar de êxtase e ao mesmo tempo de espanto do protagonista expõe as suas e as nossas vulnerabilidades. Como já mencionado, nem tudo acontece como gostaríamos, pois há situações que são alheias as nossas vontades. Não conseguindo dominar os sentimentos, ou os libertamos ou cancelamos as nossas vidas aqui e agora.
Conhecendo um pouco da biografia de Spielberg dá para entender o porquê dos seus filmes mexerem tanto com as nossas vidas e a história dos nossos pais, que são essenciais nessa existência, quando ainda não conseguimos desenhar as nossas próprias travessias.
O roteiro é sutil, a direção tem uma cadência harmoniosa e a interpretação de La Belle, Dano e Williams é natural e suave. Dessa forma, o filme traz em si muita leveza. Ainda que o enredo tenha algumas pitadas de invenção fabulosa, não afeta de forma alguma o todo. Os Fabelmans consegue tocar o coração!
A produção já conquistou o Globo de Ouro de melhor filme de drama e melhor direção para Steven Spielberg e, por certo, será contemplado com o Oscar em uma ou mais categorias. O Oscar 2023 será dia 12 de março e Os Fabelmans foi merecidamente indicado em sete categorias. Agora é aguardar e torcer. E viva a sétima arte que continua pulsante entre nós!
Onde assistir: Em cartaz nos cinemas.
* Janete Manacá é poeta e amante da sétima arte. Ultimamente, tem ocupado o seu tempo ousando novas experiências. Aprendeu a andar sobre as águas e a caminhar no deserto em busca de si mesma. Para compor poesias, ela mergulha no ventre da terra esquecida como parteira de palavras vivas.