Seonam Girls’ High School Investigators (2014-2015) – Por Wuldson Marcelo
Seonam Girls’ High School Investigators [Detetives do Colégio Feminino Seonam] (2014-2015)
Série da Coreia do Sul, com 14 episódios (média de 1 hora e 10 minutos de duração).
Conhecida pela polêmica e pelo pioneirismo de exibir um beijo lésbico na TV sul-coreana (algo que ocorre no final do episódio 11), Seonam Girls’ High School Investigators, da emissora JTBC, traz cinco estudantes do ensino médio cuja atividade pós-escola é se dedicar ao clube de detetives. Baseado em uma série de livros para adolescentes, escrita por Park Ha-Ika, o K-Drama (como são chamados os dramas coreanos) tem como protagonista a aluna transferida Ahn Chae-yool (Jin Ji Hee) – Seonom é a última chance da garota estudar na Coreia do Sul, já que sua mãe planeja enviá-la para os Estados Unidos –, que é logo “perseguida” e incorporada pelas investigadoras ao seu time, enquanto lida com a autodescoberta, os conflitos com a mãe – que planeja seu futuro – e os desafios e mistérios do professor Ha Yeon Joon (Kim Min Joon), que também é um escritor de sucesso.
Seonam Girls’ High School Investigators é uma série processual, o que quer dizer que cada caso é resolvido sem interligação com o anterior e o posterior, enquanto o arco principal se desenvolve até chegar ao seu clímax, justamente a relação entre Chae-yool e o professor Ha Yeon, que guarda um dos segredos mais sombrios da escola e os momentos mais tensos da série, pois envolve o suicídio da estudante e jovem promessa literária Choi Mi Era (Lee Joo-woo).
Além da direção ágil, de uma montagem que favorece a captura de nossa atenção, investindo em um ritmo que dosa a dedução na investigação e um humor que, muitas vezes, lembra as sitcoms estadunidenses, apesar dos clichês (principalmente aqueles que acompanham a diretora da escola, o irmão e a mãe de Ahn Chae-yool), o K-Drama é um belo exemplar de obra que respeita suas personagens centrais e tem a amizade e o poder femininos em primeiro plano, sendo primordial para a resolução dos casos que chegam as detetives.
Casos que trazem temas sérios, normalmente não tratados em K-Dramas da época, e a abordagem desses assuntos é um dos méritos de Seonam Girls’ High School Investigators, que não tem receio de provocar o debate, mas não é panfletário e nem pedagógico, permitindo que as meninas cresçam com as descobertas a respeito do que move as envolvidas e envolvidos no mistério ou demonstrem sua maturidade, optando por não julgar as escolhas de suas colegas.
O primeiro caso com qual se deparam Chae Yool, Yoon Mi Do (Kang Min Ah), a líder do grupo – que talvez seja a melhor personagem, mas um tanto subaproveitada –, Lee Ye Hee (Lee Hye Ri), aspirante a atriz e grande apreciadora de comida, Choi Sung Yoon (Stephanie Lee), sensível, prestativa e habilidosa na culinária e Kim Ha Jae (Lee Min Ji), uma hacker que diz possuir poderes psíquicos e é a mais introvertida do conjunto de investigadoras, envolve a identidade de um misterioso agressor, que morde apenas as jovens estudantes da Seonam, com a protagonista sendo uma de suas vítimas. O melhor desse arco são as tentativas de convencimento das meninas para filiar Chae Yool ao clube.
Já o segundo caso traz o inevitável bullying e uma amizade desfeita que se transformou em um misto de indiferença e perseguição. Vergonha, incomunicabilidade e comportamento de manada revelam muito de um ambiente escolar que muitas vezes pode ser e é tóxico.
O caso número três se inicia com o atentado sofrido pelo fotógrafo Ha Ra On (Han Ye Joon), sobrinho do professor Ha Yeon Joon. Envolvidas na cena do crime, as investigadoras tentam descobrir quem atirou no artista (com uma aposta entre Ha Ra e Chae Yool a embalar a motivação das estudantes), enquanto a relação de Ha Ra e Yeon Joon se deteriora cada vez mais por conta do suicídio de Choi Mi Era e Chae Yool se percebe no olho do furacão, já que seus talentos literários chamam a atenção do professor que deseja orientá-la.
Os casos quatro e seis (com o quinto caso sendo também bem articulado e desenvolvido) são aqueles que distinguem o K-Drama de seus pares e trazem um tratamento corajoso e sensível para questões que são tabus para a sociedade coreana, que é extremamente conservadora, como o aborto e a homossexualidade.
No quarto caso, a aluna exemplar, de excelente notas, Park Se Yoon (Jung Yeon Joo) contrata as detetives para encontrar um coelhinho de pelúcia que lhe foi roubado. A investigação leva as garotas a descobrir o triste segredo de Se Yoon, que é um aborto, que pôs fim ao seu amor adolescente e do qual a estudante se arrepende. O arco é pesado, pois discute as decisões egoístas dos adultos e sua influência sobre os jovens, gravidez na adolescência, suicídio e, para as investigadoras, os limites no que concerne ao que é público e ao que pertence tão somente à vida privada e íntima das pessoas.
O quinto caso é sobre a sabotagem sofrida por um confeiteiro tradicional que fornece pães e doces a Seonam. Aqui as relações familiares e trabalhistas revelam autoritarismo e arbitrariedades no que tange à forma de manifestar cuidado e a construção do futuro. Há o apelo de uma jovem tentando se comunicar com o pai, que a impede de seguir seu sonho.
Os episódios 11 e 12, que formam o sexto caso, trazem o beijo lésbico entre Han Soo Yeon (Kim So Hye) e Park Eun Bin (Kang Sung Ah). As detetives prometem ajudar Soo Yeon a descobrir a verdade sobre um vídeo seu que foi adulterado e causa escândalo na escola, que é reforçado sobre os comentários a respeito da sexualidade da jovem. Soo Yeon também é vítima do moralismo de um grupo clandestino na escola que denuncia toda a ação que consideram permissiva e contra às normas e padrões sociais. As investigadores precisam desmascarar as conservadoras da história, revelar a autoria do falso vídeo e preservar a identidade de Eun Bin.
O arco é narrado com segurança e delicadeza, e o romance entre as estudantes com beleza e respeito, sendo um combate efetivo contra o preconceito e um aceno bem-vindo à diversidade sexual. É marcante a frase de Ye Hee no episódio “quem sou eu para não aceitar o relacionamento delas?”.
O último caso é contratado pela própria Chae Yool, que deseja desvendar o suicídio de Choi Mi Era e o envolvimento de Yeon Joon na tragédia. Hamlet de Shakespeare serve como referência para a revelação da verdade. São dois episódios bem estruturados, que encerram com alguma surpresa e impacto o arco da protagonista e o seu desenvolvimento.
Apesar de seus inúmeros méritos, Seonam Girls’ High School Investigators tem alguns problemas relacionados à evolução de alguns personagens, que, ainda que desenvolvidas, certos elementos de suas vidas não ganham um prosseguimento – das detetives, como já citado, apenas Chae Yool tem sua complexidade explorada de forma mais aprofundada. O triângulo amoroso que se estabelece entre Ahn Chae Joon (Jang Ki Yong), um gênio da matemática e irmão de Chae Yool, Yoon Mi Do e Lee Ye Hee, quando o rapaz as confunde, devido à imagem que Mi Do constrói para si nas redes sociais, não emplaca e não empolga, seja no romance, seja na comédia. O importante da subtrama é que a sua resolução foca na amizade e não na competição entre as jovens pelo galã.
Pelo modo consciente, corajoso, evitando banalizações e preconceitos, e cuidadoso com que trata seus temas, além do retrato tão positivo das relações femininas, Seonam Girls’ High School Investigators é um K-Drama que, se não fez muito sucesso na época (tendo os 16 episódios originais reduzidos para 14), merece o status alcançado com o tempo, pois conta com humor, inteligência e ótimas atuações (principalmente das atrizes e atores secundários), histórias realistas de maneira divertida e séria, com um equilíbrio notável em todos os episódios.