Entrevista com o escritor Odara Fernando #PassouPelaFLIPEBA
Em setembro, nos dias 22, 23 e 24, ocorreu a I Festa Literária na Ilha de Boipeba – FLIPEBA. Festa que buscou divulgar e fortalecer a celebração da literatura, das histórias e da identidade cultural que se cruzam e perpassam a ilha, que está para além da imensidão azul. A FLIPEBA nos três dias de evento reuniu diversos escritores, artistas e apreciadores de literatura, tanto da ilha – os nativos – como convidados, além de turistas de outros países, como Portugal, Argentina, Espanha.
Na sexta-feira, 24/09, ocorreu às 20h30 horas na Praça Principal de Boipeba, a mesa literária “Literatura é resistência” que contou com a mediação de Manoela Ramos e participação de Midiã Noelle, Hamilton Borges, Odara Fernando e Jessé Andarilho, que puderam conversar mais a respeito sobre como a literatura exerce para além de uma função de resistência.
Na coluna “Nas águas literárias da FLIPEBA” a colunista Nina Maria conversou um pouco com Odara Fernando acerca da sua atuação literária. Segue abaixo as quatro perguntas feita por Nina Maria à Odara Fernando.
Quem é Odara Fernando?
Cacau Multi Artista, a partir do cacau atua em universos múltiplos como da arte e a política. Da gastronomia ao ativismo! Promove auto desenvolvimento e o desenvolvimento das comunidades. É poeta, articulador cultural e ativista social.
Nina Maria pergunta a Odara Fernando: Quem é Odara Fernando? De onde surgiu o nome Odara? Me conta suas nuances e atuações
R – Odara Fernando é uma pessoa não binária, que é baiana, nordestina, possui raízes familiares em boipeba e também em Salvador. Também sou afro-indígena. O nome Odara vem para ressignificar o meu lado feminino, o meu lado foi sempre reprimido. Então eu sou cacau multiartista, chocolateira artesanal, atuo na agricultura familiar, na gastronomia e artes em geral, além do ativismo, impactos sociais e ambientais.
NM – Porque falar em Odara Fernando é falar de resistência?
R – Às vezes eu gosto da palavra resistência e às vezes eu não gosto. Eu gosto muito de falar assim nossa eu me considero o progresso mesmo sabe, porque existe demais é uma palavra muito cansativa. Eu acho que tipo assim a gente tem que começar a falar do nosso povo como um povo de progresso sabe. É isso vamos chamar o progresso para o nosso povo.
NM – Como está em sua biografia, a partir do cacau você atua em universos múltiplos como da arte a política, bem como da gastronomia ao ativismo. Nota-se que o cacau é sua fonte de renda e atuação político-social. Como nasceu essa relação? Quando Odara se encontrou com o cacau? O que te motivou a construiu esse império de lojas de chocolate e cacau?
R- Com relação do meu trabalho com gastronomia, agricultura familiar, chocolate aliado a sociedade, é que é isso né…Todo mundo está interligado de qualquer forma, e, como eu uso muito o marketing, as artes visuais eu vi a necessidade também de estar atrelando isso a nutrição, a falar sobre alimentação, principalmente da população afro-indígena, e fortalecer também os nossos meios de alguma forma. E, na verdade, o império está sendo construído, o império está se formando, mas eu sou muito orgulhoso tudo que eu tenho feito com poucos recursos, não sou de família herdeira sabe. Comecei com 50 reais há 10 anos e estou até hoje aqui desenvolvendo e isso me deixa muito orgulhoso. Claro também que sempre tive que contar com a ajuda de minha mãe, a mulher que sempre foi muito…muito minha heroína, que me ajudou muito.
NM – A partir de suas redes sociais, percebe-se que parte do seu empreendedorismo com o cacau também está ligado a oficinas com crianças. Porque ensinar a crianças a lhe dar com o cacau e produzir chocolate? Qual a importância e o que te motivou a fazer tal trabalho?
R – Sobre o trabalho com as crianças, então a gente sofre muito essa questão também do nutricídio, que é colocado para nossas crianças, principalmente crianças negras e indígenas e pobres, que estão na base da pirâmide. Então acho importante a gente começar a levar essa cultura do cacau a barra, coco à manteiga, coco ao leite, essas coisas mais saudáveis, porque também faz parte da culinária do nosso povo antigo. E nossas crianças precisam crescer saudáveis, também ter essa educação, esse conhecimento que é delas também.
NM – Odara, falando em literatura, para você porque a literatura é um espaço de resistência? E como você se relaciona com a poesia?
R- Um relacionamento com amor com conflitos e, mas eu acho que poesia é muito importante, sabe a literatura pode abrir muitas portas.
NM – Produzir cultura é resistir. Ser articulador cultural é resistir em tempos de desincentivo à cultura é resistir. Como você se encontrou com a cultura? Quais os meios que você procura para levar ações culturais as comunidades e espaços que você frequenta?
R – Os meios que eu procuro levar ações culturais para comunidade são esses…através da agricultura familiar, da cultura, os trabalhos com minha mãe, a cultura holística.
NM – Porque falar de Odara Fernando é falar de cultura?
R – Falar de Odara Fernando é falar de cultura porque minhas raízes, as raízes do Brasil, é as raízes indígenas e as raízes africanas que construíram esse país.
NM – O ativismo social é algo imprescindível na nossa sociedade. Quando nasceu Odara ativista social e porque ser ativista em tempos de ódio? Quais as suas memórias e experiências em relação ao ativismo na Ilha de Boipeba?
R – Nós pessoas pretas, indígenas, pessoas afro indígenas, quilombolas já nascemos no ativismo. Nossa sobrevivência é o ativismo.
NM – Odara, deixa uma mensagem de incentivo para buscarmos cada vez mais uma sociedade pautada na valorização das raízes e natureza, assim como no empreendedorismo consciente, além da atuação da literatura correlacionada ao ativismo social e a articulação cultural, para que mais Odaras Fernado possam florescer nesse território.
R – E minha mensagem de incentivo é não é tão fácil, mas também não é tão difícil. Sozinho é difícil, mas também é possível. Porém também com união de todos é maravilhoso, mas se quando começar você puder dar o pontapé inicial se ninguém quiser ir com você, você vai sozinho e mostra para você mesmo que é possível. E daí em diante você vai ver que as pessoas vão começar a querer também colaborar com você. Mas o importante é dar o primeiro passo e como a gente pode. Um beijo Nina Maria, foi um prazer.